INOVAÇÃO COM EXCELÊNCIA: A NOVA ERA DA DANNEMANN


Foto: Douglas Takashi

Caruso Journal traz uma entrevista com Geraldo de Menezes, diretor da Dannemann Brasil

Convidei Geraldo de Menezes, Diretor Geral da Dannemann do Brasil, para um bate-papo no Caruso Lounge. Chamei também meu grande amigo e aficionado por charutos, Andre Milchteim para participar da conversa. Durante o encontro, degustamos um Dannemann Toro Santo Antônio.

CONTE-NOS UM POUCO sobre a HISTÓRIA DA DANNEMANN

A história toda começou em 1872, quando um alemão chamado Geraldo Dannemann saiu de Bremen, Suíça, com 23 anos de idade e veio para a pequena São Félix, cidade situada às margens de um rio na Bahia com o sonho de criar charutos premium para a Europa. Já naquela época, a região era famosa por seus tabacos Mata Fina. Ele construiu sua primeira fábrica de charutos (em funcionamento até hoje) e começou a colaborar e trabalhar com os agricultores e artesãos locais. Ao se tornar uma personalidade política e econômica na cidade foi nomeado o primeiro intendente de São Félix por Dom Pedro II – o que equivale ao cargo de prefeito. O tabaco era embarcado em pequenos saveiros (pequenos barcos de madeira de carga), através do Rio Paraguaçu até o porto de Salvador e depois eram exportados para a Alemanha. Com o advento das Guerras Mundiais, o fluxo comercial entre o Brasil e a Alemanha foi interrompido e a empresa acabou tendo que passar uns anos sem operação. Na década de 70, o BS Group comprou a Dannemann e passou a investir maciçamente na região, comprando terras e produzindo charutos. Em resumo, a matriz da Dannemann hoje fica na Suíça e nossos produtos estão presentes em mais de 63 países, principalmente com as cigarrilhas, mas preservamos a produção artesanal de charutos para atender ao mercado brasileiro e alguns pontos específicos na Europa.

A PRODUÇÃO DE CHARUTOS DA DANNEMANN É HOJE A MAIOR DO BRASIL?

Não, longe disso. Nós não temos, como política da empresa, a intenção de expandir globalmente o charuto premium. Nossos charutos premium são utilizados mais como posicionamento da marca do que como um negócio. Por isso podemos nos dar o luxo de privilegiar mais a qualidade do que a quantidade. Os nossos charutos emprestam, vamos dizer assim, a sua qualidade para as marcas de cigarrilhas que também fazem parte do segmento “A” de exportação. Aumentamos um pouco a produção de acordo com a demanda aqui no Brasil ou em alguns pontos da Europa, mas nunca com a intenção de duplicar, triplicar a quantidade. Em hipótese alguma podemos perder qualidade; o charuto é a imagem da empresa. Se compararmos com outras fábricas aqui do país, em termo de quantidade de charutos, nós somos uma das menores. Mantemos a produção da mesma maneira que era quando Geraldo Dannemann veio para cá, fazendo pequenos ajustes e melhorias, mas a produção é totalmente artesanal e sem o objetivo de ganhar escala.

A DANNEMANN SE DESTACA PELO MÉTODO DE PRODUÇÃO DO PAPEL DE CELULOSE, PODERIA EXPLICAR ESSE PROCESSO?

As fábricas geralmente usam as prensas para dar o formato cilíndrico ao charuto, o que assegura a produtividade. Distintamente, utilizamos o método do papel de pura celulose, que não interfere em nada no sabor e no aroma do tabaco. Logo após a charuteira colocar a folha do capote no charuto, que ainda está úmido, enrolamos ele nessa folha e deixamos por no mínimo duas semanas em uma câmara fria para perder a umidade e ganhar o formato cilíndrico. Depois, tiramos o papel celulose e capeamos. Qual que é a grande diferença? Quando você utiliza a prensa, existe uma possibilidade maior de você compactar o charuto, porque ele está úmido e você está fazendo uma pressão sobre ele. Então, muitas vezes, vocês ouvem falar que o charuto está entupido e você precisa fazer força para degustar. E isso é normal. Não é uma coisa que você deve condenar a marca. No caso do papel, a possibilidade de você ter o fluxo perfeito é muito maior do que na prensa, a margem de erro é muito menor, mas, em contrapartida, perdemos em produtividade.

SABEMOS O TRABALHO QUE VOCÊ TEVE COM AS LINHAS MATA FINA E SANTO ANTÔNIO. PODERIA NOS CONTAR UM POUCO SOBRE O LANÇAMENTO, O SUCESSO E AS DIFICULDADES?

O primeiro ponto desse lançamento foi uma grande discussão que eu tinha com o próprio grupo suíço. Mesmo não sendo o charuto o core business da empresa, nós precisávamos evoluir. Estávamos com o mesmo design, mesmos sabores e mesmas bitolas há décadas. Precisávamos criar uma identidade visual, sabores mais encorpados e mais aromático, pois o consumidor atual está bem mais exigente. Então, quando o CEO mundial chegou ao Brasil, eu entreguei seis unidades sem as anilhas e pedi para ele degustar. No sábado de manhã, ele me chamou na casa da fazenda e quando cheguei lá me deparei com as seis unidades queimadas. Ele olhou para mim e disse: “Geraldo, você tem um excepcional charuto aqui, pode lançar!”. Assim, eu atropelei todo mundo e consegui a aprovação direta da matriz suíça. Depois foi só esperar o trâmite para obter o registro no Brasil e cumprir toda as exigências, você sabe que só trabalhamos dentro da legalidade. Hoje em dia posso dizer que tenho um bom problema, estamos com baixo estoque graças à grande demanda. Nenhuma expectativa que eu tinha chegou próxima do resultado que obtivemos. Nunca imaginei esse sucesso. Se eu exportar para a Europa eu não consigo atender o Brasil.

QUAIS OS NÚMEROS DESSE LANÇAMENTO?

Eu não gosto muito de números, mas posso dizer que do faturamento arrecadado em três meses, apenas o Toro representou 30% do faturamento anual de todas as outras caixas. Mas o principal ganho foi do mercado. Estávamos muito conformados, mas depois do lançamento do Mata Fina e do Santo Antônio, todas as outras marcas nacionais melhoram e lançaram charutos de maior qualidade. Houve um movimento muito bom do mercado e uma grande recepção do consumidor. O mérito deve ser atribuído a todas as marcas em conjunto. Eu sempre digo que ninguém se fortalece sozinho.

Foto: Douglas Takashi

O TABACO BRASILEIRO É REQUISITADO MUNDIALMENTE, QUAL A RAZÃO PARA O PRECONCEITO COM O CHARUTO?

É falta de informação e divulgação, ponto! Você só quebra preconceito quando se conhece alguma coisa de verdade. O tabaco Mata Fina é um dos mais apreciados do mundo. Muitas fábricas utilizam as mais variedades de tabaco brasileiro em seus blends, mas isso não é repassado. O brasileiro não sabe disso. Para muitos o charuto se resume a Cuba. Se o consumidor pesquisar, ele vai descobrir que existe um mundo muito maior que Cuba. Mas se nosso tabaco é utilizado nas outras marcas mundiais de grife, por que nossos charutos seriam de uma segunda categoria? Eu posso afirmar que não são. É uma pena que por falta de informação, muitas pessoas não guardem charutos brasileiros dentro de seu umidor junto com os outros. Aquele que acredita no seu produto sabe que vai prevalecer e o consumidor de verdade, interessado, também sabe disso – e eu tenho certeza que ele buscará informação e saberá que charuto brasileiro é um dos melhores e mais apreciados, do mesmo jeito que ocorre nos outros países. Nosso trabalho é muito sério e merecemos esse reconhecimento.

DURANTE VISITA A FÁBRICA FICAMOS SURPRESOS COM A ESTRUTURA E PROFISSIONALISMO MAS NUNCA VIMOS UMA FÁBRICA “ESTOCAR ÁGUA”. PODERIA EXPLICAR A RAZÃO?

Ainda bem que vocês viram isso, porque toda vez que eu falo as pessoas acham que estou exagerando. Nós armazenamos água porque temos um sistema de irrigação por gotejamento e submetemos essa água a um sistema de filtragem chamado de osmose reversa, que retira os minerais para devolver ao campo uma água pura, apenas com o que queremos. Utilizamos somente o que precisamos dos mananciais da região. A capacidade estática de armazenamento nos tanques é de 380 milhões de litros. Fazemos assim um uso racional da água. Pesquisamos e estudamos muito como fazer isso. É como se fossemos a nutricionista das plantas.

A DANNEMANN ESTÁ PREPARANDO ALGUMA NOVIDADE PARA 2019?

Antes do Festival do ano passado já estávamos testando o que íamos lançar. Provavelmente vai ser uma edição limitada para o Festival de 2019. E é assim que a gente caminha, vamos tentar lançar uma coisa nova com um blend legal e espero que o mundo goste. Nosso plano para o mercado é tentar consolidar cada vez mais a marca Dannemann entre uma das melhores marcas do mundo. Soa um pouco arrogante, mas se eu não tiver isso como meta, eu não saio do lugar. E o verdadeiro teste é a aceitação do mercado.

GOSTARÍAMOS DE SABER MAIS SOBRE VOCÊ, GERALDO. COMO COMO FOI SUA CHEGADA NA DANNEMANN?

Eu trabalhava em outra empresa que não tinha nada a ver com tabaco, na realidade eu nem sabia que se produzia tabaco na Bahia, muito menos charutos. Enfim, eu era responsável por toda área financeira dessa outra empresa, mas estava infeliz, estava decidido a sair de lá. Comentei com um amigo que queria sair. Ele comentou com sua esposa, que por um acaso recebeu em uma rede de e-mail uma mensagem de um amigo dela, que um headhunter estava com uma vaga aberta para uma determinada empresa, porém, eles não diziam qual era. Ela me ligou e conversamos sobre a vaga. Como eu não tinha nada a perder, mandei meu currículo. Resumindo, fui selecionado, mas só na reta final fiquei sabendo que se tratava de uma empresa do segmento de tabaco, sediada em São Félix, BA. Pensei, como uma cidade tão pequena no interior da Bahia tem uma empresa tão grande? Fui para São Félix e fiz minha última entrevista com o pessoal da Europa. Bom, entrei. Comecei a perceber a grandiosidade da empresa quando, no meu segundo dia, me levaram para a Europa e me ensinaram por meses tudo sobre a produção de charutos; claro que no começo pensei em recusar, mas agora só saio se me mandarem embora. Fiquei apaixonado por esse universo, passei a entender que o charuto não é um produto, mas sim um meio de reflexão, de busca pelo conhecimento e de socialização. Estou aqui feliz da vida e quero me aposentar na Dannemann.

EM 10 ANOS DE DANNEMANN, QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS SUAS PRINCIPAIS DIFICULDADES?

A primeira grande dificuldade foi entender a fundo o processo produtivo do charuto, porque como vocês sabem, é muito mais complexo do que as pessoas imaginam. Demora mais de dois anos para se chegar num charuto. Eu estudava todos os dias, mas ainda sim tinha muito para aprender. A segunda dificuldade foi entender o porquê os consumidores brasileiros rejeitavam tanto os charutos nacionais. Eu precisei fazer um processo auto educacional, para depois começar a explicar às pessoas. É necessário ter paciência, esse é um processo que demora. E a terceira, que eu acho que sempre será uma dificuldade, é a legislação. Concordo e endosso que tabaco seja regulado, mas têm exigências que não fazem sentido, principalmente regular todos os produtos de tabaco sob uma mesma categoria, sobre o mesmo parâmetro, porque cada um é um produto totalmente diferente, o processo é diferente, a matéria prima é diferente, os hábitos de consumo são diferentes e o mercado é diferente. O charuto deve ser apreciado com moderação, como todo e qualquer prazer da vida. E todos nós sabemos que para isso, nada melhor que educação – e não proibição. Nesse sentido, o que falta é conversar um pouco mais com os produtores e ter bom senso. Mas devo dizer que, com o passar dos anos, o órgão regulador evoluiu bastante e penso que se chegará a um consenso, estabelecendo o que realmente precisa ser feito, para conciliar os anseios dos produtores, dos consumidores, das entidades de saúde e estabelecer uma legislação mais técnica. E é o que vem acontecendo.

COMO PREFERE DEGUSTAR, APENAS O CHARUTO OU HARMONIZANDO COM UMA BEBIDA?

Eu gosto muito de harmonizar. Contudo, não sou xiita em relação a isso, eu acho que cada momento você pode escolher uma harmonização diferente. A harmonização varia de acordo com o gosto da pessoa, não existe uma regra para isso.

TEM ALGUM SONHO QUE QUEIRA REALIZAR?

Meu sonho é poder degustar um charuto sem ter olhares de recriminação ao meu redor. Poder exercer meu livre arbítrio sem ser policiado. Já passei por uma situação desagradável em Salvador. Estava eu, numa praia isolada, sentado embaixo de um coqueiro, degustando meu charuto. Passou um casal correndo na areia, bem longe de mim, o sujeito deu a volta, chegou perto e disse que eu estava poluindo o ar dele. Eu apaguei o charuto, não por ele, mas porque eu perdi o prazer. O ser humano veio para a Terra para aproveitar vida, cada um à sua maneira, respeitando os outros e exercendo seu livre arbítrio.

Foto: Reprodução/Dannemann
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