Entrevista com Guillermo León


Guillermo León (Foto: La Aurora)

A peça chave da La Aurora

Por André Caruso e Andre Milchteim

Guillermo León Herbert é a quinta geração de sua familía a trabalhar com tabaco. Costumava brincar nos campos ao redor da fábrica depois da escola. Após se formar em administração, começou a trabalhar na La Aurora. Em 1993 foi nomeado vice-presidente executivo e foi o responsável pela expansão da marca para o mercado mundial, contribuinte, inclusive, para a confecção e para o lancamento das prestigiadas séries Aniversario 100 anos, Aniversario 107 anos, Aniversario 110 anos e Aniversario 115 anos.

Embora seja o Presidente da La Aurora, mantém os hábitos que adquiriu no início de sua carreira: é um dos primeiros a chegar à fábrica e um dos últimos a sair e, ainda, costuma trabalhar aos sábados. Costuma dizer que: “Na La Aurora, o mais importante é o capital humano”. Assim, diariamente caminha pela fábrica para conhecer e conversar com os funcionários e sua sala está aberta para qualquer um que quiser entrar, e, sem embargo, controla pessoalmente a qualidade dos charutos, da plantação até os mais específicos setores da fábrica.

Conversamos em seu escritório e no lounge existente no segundo andar da fábrica, repleto de quadros retratando e homenageando as gerações anteriores. Já no primeiro contato se percebe que ele é uma pessoa carismática e totalmente orientada pelos valores familiares.

Como está Guillermo, tudo bem?

Tudo ótimo, muito obrigado por vir até nossa casa. Agrademos muito à presença de vocês.

Indo direto ao ponto: qual é o diferencial dos charutos La Aurora?

Nosso principal diferencial é que apreciamos o nosso próprio charuto! Para isso, graças a Deus, nós conseguimos ter um grande inventário das folhas que usamos, o que garante a consistência dos charutos. Cada tabaco precisa de seu tempo para secar, fermentar, amadurecer e descansar na sala de envelhecimento. Se esse período não for observado, não é possível se obter um charuto de qualidade. Veja, vocês sabem que o charuto premium é um produto 100% natural… qualquer alteração no solo, no sol, na chuva afeta a produção. Então a única maneira de manter os blends ano após ano é ter um inventário compatível com a produção e assegurar o devido envelhecimento das folhas. Cada charuto tem a sua receita… e a nossa produz charutos saborosos, que conseguimos manter a cada safra. E nós apreciamos cada um deles.

Vocês estão posicionados como um dos melhores do mundo…

Bem, eu não gosto de falar… para mim existem excelentes charutos no mercado. É como se eu te perguntasse “Qual é o melhor vinho?”, e eu direi “Eu gosto deste”, talvez você não goste, mas o que posso garantir é que há qualidade no produto, consistência e seriedade nas etapas de produção. A paixão está nas coisas que nos unem. Temos funcionários que trabalham aqui há 50 anos e outros que seguem uma tradição de sua família, que já trabalharam aqui. Isso se deve a uma paixão. Você entra na fábrica e vê pessoas sorrindo, elas gostam daqui, não se sentem obrigadas e estão contentes. É por isso que digo que encontrei o melhor hobby do mundo, pois, além de gostar do que faço e desfrutar dos charutos, me traz dinheiro… (risos).

Guillermo León, Andre Milchteim e André Caruso (Foto: Acervo Pessoal de André Caruso)

Como a La Aurora e a família León Jimenes conseguiram isso?

A história da La Aurora é a história da minha família e vice-versa. É uma história longa, que começou em 1903, quanto meu avô Eduardo León Jimenes, fundou a fábrica justamente neste lugar em que estamos conversando. São inúmeros os fatores que nos permitiram encontrar a receita que nós entendemos ser a ideal para nosso paladar e mantê-la ao longo do tempo. Nesses mais de 100 anos nossa família acumulou conhecimento e técnicas para produzir tabacos excepcionais, aprimorar a produção, fazer um controle de qualidade impecável para, finalmente, fazer os blends que nós mesmos gostamos de fumar. Mas isso requer tempo e recursos, por isso a solidez do nosso Grupo foi muito importante… Meu avô começou numa fábrica muito modesta, com apenas três torcedores. Ela foi crescendo e hoje está sediada no que hoje é o Parque Eduardo León Jimenes, não sei se vocês viram quando estavam vindo para cá, ao lado do Centro León. Foram muitas idas e vindas, mas para continuar a crescer diversificamos nossos investimentos, principalmente a partir da década de oitenta, quando ingressamos no mercado de cervejas e abrimos a Bohemia Brewery com o intuito de competir com a Cervejaria Nacional Dominicana, dona marca Presidente, líder no mercado na época. Conquistamos 31% do mercado com a marca Bohemia e depois compramos a Presidente. Na década de 90, constituímos o banco e nosso Grupo, por assim dizer, ficou grande o suficiente para representar 11% do PIB do país em impostos.

A La Aurora é o núcleo de um dos grupos empresariais mais importantes da economia dominicana, você deve ter orgulhoso dessa história…

Te digo que, para mim, conseguir se tornar o representante de minha família nesta empresa é meu maior motivo de orgulho. A La Aurora é a semente do grupo… foi o começo do Grupo e, de certa maneira, ainda continua sendo… Toda minha família começou e se formou aqui e daqui surgiram as demais empresas. Então, ser a “cabeça” do que foi a origem de tudo me orgulha, porém, é necessária muita seriedade e comprometimento.

Foram muitas as dificuldades?

São 115 anos de história. Você sabe que, graças a Deus, as dificuldades sempre se transformam em oportunidades. Para mim, as grandes crises são as oportunidades para você mudar e seguir adiante, porque se você se acomoda e trabalha sempre da mesma maneira, vai acabar fracassando. Quando eu assumi a La Aurora tínhamos 230 funcionários e produzíamos 80 milhões de charutos ao ano, hoje temos 1.700 funcionários e uma produção anual de 1.3 bilhões no total e 13 milhões destinados exclusivamente à linha premium. Foram muitas dificuldades sim, mas justamente por causa delas que estamos aqui hoje.

Com mais de 100 anos de história, o que vocês fazem para atender ao perfil dos consumidores atuais?

Eu sempre me apeguei à tradição. Buscamos trazer tudo aquilo que pode melhorar a qualidade dos charutos, mas nos mantemos firmes na produção artesanal e nos métodos que foram passados de geração para geração. Podemos inovar os produtos, atualizar o portfólio e buscar melhorar os blends – e isso é normal em qualquer setor – mas não nos afastamos das nossas origens. Tudo tem que observar a tradição da nossa família. Hoje em dia, nossa preocupação é ensinar os consumidores a apreciar um charuto premium, o que só vem com conhecimento.

Por isso vocês criaram o Cigar Institute?

Eu acredito que nós estamos na vanguarda… há mais de 10 anos investimos na educação dos consumidores, aliás, de forma mais objetiva, estamos ensinando os consumidores sobre o charuto dominicano e não apenas mostrando a nossa marca. Por isso criamos o Cigar Institute, cujos cursos são validados pelo Instituto Dominicano de Tabaco e os maiores profissionais da indústria dominicana de tabaco fazem parte do nosso grupo de professores. Construímos um novo prédio com duas alas, cada uma para 60 estudantes. Ensinamos da plantação até a degustação. Quando os alunos terminam o curso, recebem um diploma do Instituto Dominicano de Tabaco que os certifica como especialistas em tabaco dominicano, estamos muito focados em ensinar as pessoas a fumar da maneira adequada… a desfrutar…, porque realmente acreditamos que existe um vazio formativo na parte dos charutos premium. É importante explicar por que um charuto custa o que custa e por que a La Aurora investe oito, nove até doze anos na elaboração de um charuto. Somente quando as pessoas entendem e têm conhecimento é que elas valorizam e realmente apreciam e desfrutam do charuto.

Interior da fábrica da La Aurora (Foto: André Caruso)

Fizemos o curso e aprendemos muito com o Manoel Inoa e o Training Kit.

O Manoel é uma das pessoas que mais entende de charutos! É nosso master blend há muito tempo; já o training kit nós desenvolvemos para que as pessoas possam levá-lo para casa e tenham um roteiro de estudos específico para charutos, inclusive para reconhecer os sabores, os aromas, as notas etc. Entendemos que há muitas pessoas novas interessadas neste setor, nesse estilo de viver bem, de aproveitar a vida, aproveitar o tempo livre e é importante que essas pessoas entrem no caminho correto. É um tópico de conversa porque, quando você fala sobre vinho, também fala sobre um bom charuto.

O que poderia nos falar sobre seu lado pessoal? O que gosta de fazer?

É muito sensível sua pergunta… (risos). Eu vivo tranquilo em minha casa. Tento tomar café da manhã quando posso e trato de almoçar com minha família todos os dias. Sempre faço um esforço para voltar para casa e passar mais tempo com minha família. Acredito que esse é momento que posso ficar com eles e transmitir os valores que foram passados para mim. Gostamos de ir para a praia nos fins de semana… nada fora do normal.

Quantos filhos você tem?

Cinco. Um homem e quatro mulheres.

Uma delas estava aqui na sala agora a pouco…

Sim, era a minha filha mais velha. Mas ela gosta de fazer trabalhos em madeira e lidar com decoração.

Há uns 8 anos atrás estive aqui e você me presenteou com alguns charutos da coleção de seu pai, sem anilha, sem nada…

Era seu charuto pessoal. Por mais de 35 anos era o preferido dele e só dava para seus amigos. Ninguém sabia qual era o blend e ficamos anos tentando descobrir… Depois de muito tempo tivemos êxito e lançamos com o nome “Founder’s Reserve”.

Obrigado pela conversa. Alguma recomendação para nossos amigos brasileiros?

Que tenham muita satisfação e desfrutem seus charutos em um momento agradável. Degustem com um amigo ou com uma bebida que goste para ter uma ótima experiência e aproveitar ao máximo os sabores e aromas que eles podem te proporcionar.

Andre Milchteim, Guillermo León e André Caruso (Foto: Acervo Pessoal de André Caruso)
Anterior Toriba inaugura cigar lounge em Campos do Jordão
Próximo Las Vegas, onde fumar não é pecado

Sem comentário

Deixe uma resposta