Os novos rumos da Vinícola Zuccardi


A Zuccardi é uma das bodegas mais conhecidas e admiradas de Mendoza e seus vinhos tornaram-se bem conhecidos entre o público brasileiro (Foto: Thiago Alves)

Uma das bodegas mais conhecidas e admiradas de Mendoza

Por Aldo Assada

A Zuccardi é uma vinícola fundada em 1963 na região de Mendoza, na Argentina. Seus vinhos tornaram-se muito conhecidos pelo público brasileiro na década de 90 através da sua antiga importadora no Brasil. Seus vinhos mais conhecidos eram o “Q” linha varietais, tais como Tempranillo e Malbec, além do famoso Série A e Zuccardi Zeta, este último seu vinho ícone. Estes vinhos tinham um estilo voltado para fruta madura, taninos muito macios e uma grande intensidade de sabores; em contrapartida eram vinhos musculosos,com excesso de madeira e alcoólicos em demasia no palato.

Esse estilo era muito apreciado no período entre 2000 e 2010: porém muitos deles começaram a ser criticados pela mídia especializada: “Vinhos como Pamela Anderson” era o título dado a uma coluna do renomado jornalista Patrício Tapia, do guia Descorchados, na qual ele faz a comparação que diz que os vinhos argentinos e chilenos, embora ainda muito apreciados pelo público em geral, são vinhos “fabricados com excesso de fruta e álcool”, “muito manipulados” e “cheio de botox e siliconados, como a atriz Pamela Anderson”. Esta crítica foi feita num período crucial, em que o estilo x demanda do consumidor conflitava diretamente com o período crítico financeiro pelo qual passava a economia Argentina, com reflexos ainda sentidos da grande crise de 2002 (ironicamente uma das melhores safras de Mendoza) e também de grande exportação de seus vinhos, sendo o Brasil um dos principais mercados de atuação.

A partir de 2010 é notável a queda na venda de seus vinhos, comparado com o país rival Chile, que priorizou a diversificação de estilos e aprofundamento do conceito francês de Terroir, explorando novas áreas de produção e aproveitando de sua disposição de diversos “climats”. A consequência é que, em 2018, o vinho chileno tornou-se o vinho importado mais consumido pelos brasileiros.

Zuccardi Tito Paraje Altamira 2016 (Foto: Aldo Assada)

Os produtores argentinos, sempre visionários, atentaram-se para o país vizinho e também começaram a investir em pesquisas mais profundas que trouxeram gratas mudanças: dessas, a mudança mais evidente foi o foco em vinhos produzidos em áreas mais específicas, como as sub regiões dentro do Vale do Uco (um exemplo que falaremos a seguir é o Paraje Altamira). Para isso, a Zuccardi contratou o famoso viticultor e geólogo Pedro Parra para encontrar os melhores “terroirs” e obter a melhor expressão de seus vinhos na região.

Além disso a vinícola tem feito uma grande mudança dentro de sua adega: adoção de foudres de carvalho de alta litragem, envelhecimento em carvalhos de segundo e terceiro uso permitem que seus vinhos tenham um estilo mais franco e com menor interferência enológica. O resultado foi um estilo de vinhos muito expressivos e saborosos que, segundo Zuccardi, foi bem aceita pelos clientes.

Durante um jantar harmonizado promovido pela Grand Cru, no Caruso Lounge, tive o prazer de encontrar e entrevistar o sr. Alberto Zuccardi, proprietário da Zuccardi. Ele falou sobre as novidades que chegam ao Brasil e aproveitou também para falar sobre o rumo que os estilos de seus vinhos têm tomado. A entrevista completa você poderá assistir em breve no canal no Youtube do Caruso Lounge.

A seguir, os vinhos apresentados durante o jantar:

1. Zuccardi Q Chardonnay 2016

Famosa variedade branca, nunca foi a variedade mais apreciada da Argentina: os Chardonnays argentinos são conhecidos por serem muito intensos, cremosos em demasia, com bastante nota de creme brullé. Este exemplar tende a ir mais para os Chardonnays do velho mundo: intensidade média em fruta, boa acidez e algumas notas oxidativas devido ao tempo em garrafa. Na harmonização com salada Parma funcionou bem: a salada não foi temperada com nenhum vinagre e ainda casou-bem com as nozes, presunto parma e o molho a base de limão e mostarda.

2. Zuccardi Q Malbec 2016

Malbec mais conhecido da Zuccardi. O traço de violetas e especiarias negras com média intensidade. Um Malbec correto e fácil de beber.

3. Zuccardi Polígonos Malbec 2016

Apresenta uma coloração mais voltado para o purpúreo, intenso e chega a tingir a taça. Demonstra uma inusitada mineralidade e notas de violetas frescas, que remete aos famosos Touriga Nacional do Douro. Na evolução em taça também apresenta notas de especiarias e uma pequena nota de tabaco.

4. Zuccardi Concreto Malbec 2017

Um dos destaques do guia Descorchados em 2016. Focado na expressão do solo, é notável que a Zuccardi deixou para este vinho a expressão de Malbec mais pura e preciso possível; a intensidade de fruta praticamente não existe mas em contrapartida em boca é suculento, com excelente acidez e um final bem seco lembrando bastante o Malbec do Vale do Loire, na França (lá, a Malbec é conhecida como “Côt”).

Estes 3 Malbec acompanharam o primeiro prato, um risoto de parmesão com Ragu de Cordeiro. Todos foram bem na harmonização mas a que ficou mais interessante foi o Concreto Malbec.

5. Zuccardi Tito Paraje Altamira 2016

Corte de 90% Malbec, 6% Cabernet Sauvignon e 4% de Ancelotta. Outro vinho que tem a proposta que vai para a boa acidez e a suculência: muito floral, nota de especiaria lembrando anis e uma pequena nota de ameixa. Macio e ao mesmo tempo encorpado.

6. José Zuccardi Malbec 2014

Corte de 95% Malbec e 5% Cabernet Sauvignon; este substituiu o Zuccardi Zeta e o nome é em homenagem ao pai de Alberto Zuccardi. As diferenças também não param por aí. Focou na fruta e tirou o lado que havia muita madeira, o que definitivamente melhorou; tornou se um vinho fácil de beber mas em nenhum momento sem complexidade.
Tanto o Tito como Jose Zuccardi acompanharam a Picanha com mix de cogumelos e batata Rosti. O estilo frutado do Tito casou melhor com o corte que estava mais bem passado.

Depois dessa experiência, podemos esperar um futuro grandioso para os vinhos da Zuccardi; acredito que o Polígonos e o Concreto devem ser o estilo que vinicola seguirá nos próximos anos e também acredito que ambos tem um bom potencial de envelhecimento.

Na próxima edição voltaremos com outras novidade na coluna “Charutos e Vinhos”!

Mudanças nos estilos dos vinhos foram bem aceitas pelos clientes (Foto: Thiago Alves)
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