Ilha dos Tesouros


O personal chef e empresário Thomas Ziemer dá dicas do que ver e fazer em Cuba, dos charutos à gastronomia

Por João Luiz Vieira

Saborear um charuto é quase negociar uma contradança com o tempo. A ação pede uma pausa, concentração, integração e contemplação. Há de se convir que são atitudes eloquentes para rotinas cada vez mais absorventes e estressantes, especialmente em metrópoles como São Paulo. O que dizer se esse ritual se der em uma nação onde o passado faz questão de se manter presente mesmo que o futuro teime em bater à porta?

Cuba é uma sequência de polaroides de dias preguiçosos diante do mar, que exigem essa atração pelo degustar. Assim que o personal chef e empresário paulista Thomas Ziemer, 28 anos, descobriu que sua relação com os charutos seria duradoura, planejou-se para tirar qualquer dúvida se seria naquela nação do Caribe o local onde eram produzidos os melhores tabacos do mundo.

Tanto comprovou quanto pisou em solo cubano três vezes em dois anos. “Acho que viajamos para sair de nossa zona de conforto. Interessei por Cuba por causa de sua história, por certa nostalgia e, para minha surpresa, é o lugar mais bonito que já visitei em minha vida”.

Ziemer é tão dedicado ao assunto que criou o canal de maior audiência sobre a especialidade em língua portuguesa, um dos mais acessados do mundo, com mais de um milhão de páginas vistas: Degustando Charutos. Aquilo que começou como hobby virou especialidade. Hoje Ziemer traduz com clareza, informação e humor tudo o que se precisa saber a respeito, seja para iniciados, seja para neófitos. “Gostei da experiência, do ritual e descobri a beleza das harmonizações”, afirma. O empresário aposta que a melhor companhia para um charuto é um vinho do Porto. “É doce, limpa o paladar, fácil de beber e a percepção do álcool é sutil”, diz ele, que saboreia um charuto por dia, de variadas marcas.

Charutos são produzidos em vários países (Cuba, Brasil, República Dominicana, Honduras, entre outros), mas, ele garante, em Cuba a experiência é extraordinária. A explicação talvez paire sobre o fato de a produção na ilha estar níveis acima por causa das condições climáticas, horas de iluminação solar, temperatura, umidade, condições do solo e outros. “Uma região especial é Pinar del Río, um dos únicos lugares de Cuba que produzem os tabacos chamados de habanos”, diz.

Para se chegar a Havana há cinco opções de viagens aéreas: Copa Airlines (escala na Cidade do Panamá), Latam (Lima), Avianca (Bogotá), Aeroméxico (Cidade do México) e American Airlines (Miami). Se der, Ziemer sugere optar pela descida no Panamá por ser a distância mais curta. “Chegando a Havana, a primeira coisa a ser feita é se perder por Habana Vieja. A área antiga da capital e suas fortificações foram declaradas Patrimônio Mundial em 1982. A região mantém as características arquitetônicas do século 18, é muita rica gastronomicamente, além de reunir muitas lojas de charutos do governo cubano conhecidas como Casas del Habanos.

Para se hospedar, Ziemer indica o Palacio del Marqués de San Felipe e o clássico Hotel Nacional. Este último é ideal para se tomar um mojito ou um daiquiri no fim da tarde e, quem sabe, cruzar com alguma celebridade do nível de Frank Sinatra ou de Barack Obama, que por lá passaram. Outras duas opções interessantes em termos de localização, comodidade e luxo são o Ibero Star Parque Central e, principalmente, o Saratoga.

Para comer, as indicações certeiras são o Paladar los Mercaderes, que serve comida cubana com influência espanhola, o Ivan Chef Justo, a Casa Abel, Hostal y Paladar el Canonazo e o Valencia. “O arroz com tinta de lula do Paladar los Mercaderes é irresistível, especialmente se acompanhado de vinho branco de uvas albarinho ou verdelho (espanhol)”, diz Ziemer.

No Ivan Chef Justo, o chef indica o leitão à pururuca com mojito de acompanhamento. Na Casa Abel, lagosta grelhada harmonizada com mojito de rum envelhecido. Já no Hostal y Paladar o preferido de Ziemer é a Lagosta com abacaxi harmonizado novamente com um mojito. Por fim, a paella do Valencia acompanhado por vinho branco espanhol.

Saborear um charuto numa tabacaria tradicional de Cuba é o melhor dos momentos de uma viagem ao Caribe, de acordo com Ziemer. Das tabacarias recomendadas, onde ele gosta de fumar e tem atendimento primoroso, ele cita as Casas del Habano Palácio de Artesanias, Hotel Habana Libre, Quinta Avenida e a que fica dentro da Fábrica de Partagás.

No Conde de Villanueva, a dica pontual é procurar Reinaldo, profissional que enrola os charutos na frente do visitante. Na Habana Libre há uma vasta seleção de charutos avulsos para comprar. Na Quinta Avenida, Ziemer propõe procurar Carlos Robaina.

Após inaugurar uma fábrica em 1910, em Barcelona, na Espanha, a marca se tornou a primeira multinacional cubana. O crescimento foi interrompido em 1959, quando Fidel Castro assumiu o poder no país e confiscou os negócios da família, que teve de se exilar. O prédio comercial fica em Habana Vieja. O prédio é puro luxo. Pode-se chegar à torre e avistar toda a capital. Outra dica é seguir até o museu do rum e ainda, à fábrica El Laguito, produtora do Cohiba.

Por fim, mas não menos importante, a citada Pinar del Río, a duas horas de carro de Havana. É possível conhecer in loco as plantações de tabaco e retornar no mesmo dia. “Planeje uma viagem de cinco dias, e circule pela capital com muita tranquilidade. Havana é segura e depende muito do turista”, afirma Ziemer. Importante: em Cuba existe uma moeda para os estrangeiros chamada CUC. Recomendo levar euro em vez de dólar pois o câmbio tem taxa maior para a moeda norte-americana. Pensa em trazer charutos para o Brasil? Saiba que só se pode entrar com 25 unidades. No mais, boa viagem.

Matéria retirada da 1ª Edição do Caruso Journal

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