Johannes Roscheck Assume a Direção da Audi Brasil


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Ele queria ser piloto de avião, mas acabou decolando em outra direção e pousou de forma  certeira no topo da indústria automotiva. Conheça Johannes Roscheck, o novo presidente da Audi que já tem uma longa história com o Brasil

presidente da audiA Audi do Brasil começou 2017 com uma novidade. Em fevereiro, o austríaco Johannes Roscheck, 52 anos, assumiu a cadeira de presidente da companhia. Apesar do momento instável da economia do país, o executivo chega ao posto com bastante entusiasmo. “A Audi continua confiando no mercado brasileiro”, afirma. Ph.D em engenharia mecânica e industrial pela Universidade Tecnológica de Graz, na Áustria, o novo presidente tem mais de 20 anos de experiência no setor automotivo, com atuação internacional nas áreas de finanças e produção. No final da década de 90, Roscheck trabalhou na Audi do Paraná. Ocupou também cargos de chefia na subsidiária da empresa na Hungria, onde comandou a diretoria financeira; nos Estados Unidos, atuou como líder de projetos; e, na Alemanha, como secretário-geral. Além da extensa trajetória profissional, Johannes também tem uma história pessoal inspiradora.

A seguir, a entrevista concedida na sede da Audi, em São Paulo.

Gostaria de começar falando sobre o lugar onde você nasceu e como era a vida da sua família.

Nasci na Áustria, em uma cidade bem pequena, Mürzzuschlag, com 12 mil habitantes, no meio dos Alpes. Um lugar superbonito, natureza fantástica. Eu vivia muito fora de casa. Os meus pais nunca sabiam onde eu estava. Saía e voltava à noite. Meu pai não teve chance de estudar, mas tinha um negócio. Vendíamos tudo o que era relacionado a materiais para construção de móveis e essas coisas. E a loja tinha uma espécie de carpintaria. Por isso, na minha infância, tive esse relacionamento com tudo o que era manual, criar e produzir coisas, fazer, mexer. Era o paraíso para mim: as máquinas, os materiais. Eu preferia gastar o tempo livre nos bosques, mas, quando o clima não estava tão legal, ficava lá dentro curtindo e aprendendo na loja.

Você tem filhos? Onde nasceram?

Tenho duas filhas, uma de 16 e outra de 20. A mais velha nasceu na Alemanha, em Ingolstadt [cidade sede da Audi na Alemanha], antes de eu vir pela primeira vez ao Brasil. Ela veio aos 6 meses. A mais nova nasceu em Curitiba, tem passaporte brasileiro. Minha esposa é da Venezuela. Somos uma família um pouco internacional. Aliás, quando perguntam à minha filha, é sempre cômico. “Onde você nasceu?” “Nasci no Brasil.” “Então, você é brasileira.” “Sim e não.”

Como a sua carreira começou?

Meu pai tinha uma ligação forte com aviação, e eu tinha dois tios que voavam – por isso, eu sabia tudo sobre o assunto. Queria ser piloto, mas não pude, pois tinha uma visão que não era perfeita. Minha atenção, então, se voltou para as outras coisas com motor. Com 13, 14 anos já era claro para mim que estudaria engenharia mecânica – e foi o caminho que de fato escolhi. Na sequência, fiz uma pós-graduação e logo comecei a trabalhar na indústria automotiva. Não quis trabalhar na parte da engenharia – gosto mais da parte do gerenciamento, dos processos, da organização. Fiz uma lista das empresas onde gostaria de trabalhar, e a Audi era a número 1. Deu certo. Comecei lá aos 30 anos.

Como começa a sua relação com o Brasil?

A primeira vez que cheguei em Guarulhos, em 1996, foi um choque. Pensei: “Nunca vou morar aqui”. Lembro que ficamos hospedados no Maksoud Plaza. Eu passei o primeiro ano em São Paulo. Para mim, foi um ano muito difícil. A minha família ainda ficou na Europa, porque não fazia sentido eles ficarem um tempo em São Paulo e depois se mudarem para Curitiba [para onde o executivo seria transferido no ano seguinte]. Então, minha esposa e minha filha ficaram aqui só um mês e depois voltaram para lá. Eu ficava um mês aqui e um lá. Isso foi do final de 1996 até meados de 1997. Depois, me tornei responsável por toda a operação financeira em Curitiba, era uma fábrica da Audi com participação da Volkswagen. Mas, para ser sincero, comecei a namorar o Brasil após 2001, quando essa fase terminou e fomos embora. Antes de partir, conhecemos o interior do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia… Isso me fez entender e gostar muito mais do país.

O que o encantou por aqui àquela altura?

O país é sensacional. A natureza é fantástica, as pessoas são extremamente acessíveis. Uma coisa do Brasil que os outros países não têm é que você, como estrangeiro, não se sente rejeitado. Arriscaria dizer que provavelmente em dois terços do mundo isso é bem mais difícil de acontecer. Mesmo na Europa é mais difícil. Tudo isso, realmente, criou um vínculo bem forte. Fizemos amizades que duram até hoje. Também acho muito bacana que aqui as pessoas têm um jeito de lutar que eu não vejo em outros lugares do mundo. Elas podem estar na pior situação, mas ainda assim encontram uma certa positividade. Na Europa, por exemplo, Alemanha, Áustria, isso não existe de maneira tão intensa. Aprendi e aprendo muito aqui. Tenho uma grande gratidão por isso.

Quando você vai para a Europa, precisa se ajustar ao ambiente? Já se sente um pouco brasileiro?

Claro. Mas a verdade é que não me ajusto mais. Aprendi uma coisa importante: não vale a pena se ajustar. Custa muita energia. Já sou uma pessoa híbrida, não preciso mais de ajustes.

Qual é o lado bom do Brasil do ponto de vista dos negócios?

O dinamismo, o otimismo. Aqui, uma crise é igual e tão impactante quanto lá. Mas uma crise aqui pode significar que você perca 40% do seu negócio, é uma crise forte. E na Europa, se você perde 2%, também é uma crise forte. O que acho importante é essa flexibilidade das pessoas: a capacidade de se adaptar a uma situação nova e seguir lutando sem perder a vontade.

Qual a sua fotografia da empresa e do setor automobilístico neste momento do Brasil?

Todo o setor apostou em um mercado crescente nos últimos anos. E a situação atual é totalmente diferente. Então, a Audi, como as demais empresas, está em uma situação difícil. O mercado é menor do que planejávamos e precisamos nos ajustar. Não há perspectiva de crescer mais a curto prazo. Isso significa que precisamos criar um ambiente de hibernação, manter uma certa estrutura, as nossas concessionárias, a nossa marca forte e viva e preparar tudo para um mercado que futuramente vai retomar o crescimento. Estamos fazendo os ajustes para passar essa fase que vai, provavelmente, até 2018, 2019.

Quais os lançamentos da marca que você acha que vão funcionar melhor no Brasil?

Estamos trazendo o novo Audi Q5, que é um modelo de sucesso mundial, um carro fantástico. É o SUV mais vendido mundialmente no seu segmento. Toda a tecnologia é nova. A parte eletrônica é inédita. A qualidade e a dirigibilidade do veículo, que sinceramente já eram excelentes, foram muito melhoradas. Virá o novo Audi A5 também. O novo Audi A8 virá ano que vem, será uma máquina totalmente diferente, com soluções técnicas especiais. Será o primeiro carro, mundialmente falando, a chegar ao nível 3 de autonomia, o piloted driving. Por exemplo, na cidade o carro automaticamente segue um outro – você vai no stop and go e pode ler um jornal. É algo muito especial.

Como você e a Audi enxergam o futuro do automóvel? Acreditam em mudanças consideráveis?

Sim, acredito que a forma de utilizar os carros deve mudar um pouco no mundo. Nós observamos que, sobretudo para os jovens, não interessa tanto possuir o veículo. Dirigir, sim, mas não tê-lo permanentemente na garagem. Isso vai trazer mudanças interessantes para o futuro. Algo que já acontece em muitas cidades grandes: você usa o carro sob demanda. Acho que isso em breve será um grande mercado. Na Europa, você pode alugar um carro, andar 5 quilômetros e devolver. Haverá um mercado de luxo que mudará lentamente, mas manterá em boa parte a forma clássica de comprar um veículo. Existirá também uma forma de car sharing [uso compartilhado de veículos] em nível diferenciado. Quer dizer, assim como você pode comprar hospedagens em uma cadeia de hotéis e ir para Miami, depois Indonésia, sempre com o mesmo grupo de hotéis, isso ocorrerá com os carros. Um time sharing, você compra duas semanas de uso por ano e pode utilizar o serviço. É provável também que você possa ter acesso a um mix de veículos: você quer ir com a sua família para a praia, vai de Audi Q7; quer ir sozinho ou com a esposa, aluga um Audi R8. Ou seja, você terá toda uma paleta de veículos disponível para usar.

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