Da terra para o céu OS PLASENCIA


O vertiginoso salto da mais importante família produtora de folhas de tabaco para o seleto grupo de fabricantes de charutos premium

Assim como muitas outras histórias das famílias associadas ao mundo do charuto, a da Plasencia também começou em Cuba, no Séc. 18 e se estende até este Séc. 21, agora como uma das principais produtoras de folhas de tabaco para o mercado de alto nível. Em 2017, porém, a 5ª geração resolveu inovar essa tradição e introduziu sua própria linha de charutos premium, denominadas Plasencia Alma Fuerte e Plasencia Alma del Campo, rapidamente aclamadas pelos aficionados e pelos especialistas. Vamos conhecer um pouco mais dos Plasencia.

Em 1865, Don Eduardo Plasencia deixou as Ilhas Canárias, acompanhado de seus dois irmãos para buscar novas oportunidades em Cuba, onde se estabeleceram na famosa região de Pinar del Río, em Vuelta Abajo, que tanto ouviam falar. Alguns anos depois, alugaram a pequena fazenda El Corojal, que a época pertencia à família Cifuentes – então proprietária dos charutos Partagás. A fazenda era destinada ao plantio, ao cultivo e à colheita de tabaco, para depois serem separadas as folhas para as capas dos charutos.

Em 1890, aos 14 anos de idade, Sixto Plasencia Juarez, sobrinho de Don Eduardo, cruzou o Oceano Atlântico e passou a trabalhar na fazenda juntamente com seus tios. Algumas décadas depois, seu filho Sixto Jr. e outros irmãos fundaram a “Hijos de Sixto Plasencia” (Filhos de Sixto Plasencia). Depois de árduo trabalho, passaram a ser reconhecidos como um dos melhores produtores de folhas tabaco de Cuba.

A família continuou a desenvolver sua produção, fornecendo para fábricas cubanas e norte-americanas. Em 1949, uma nova geração nasceu com a chegada de Néstor Plasencia.

DE CUBA PARA O MUNDO

O período áureo de Cuba estava chegando ao fim e terminou definitivamente com a Revolução de 1959, quando diversas fazendas e fábricas de charutos foram confiscadas pelo regime de Fidel. Por acreditar que o regime ditatorial não iria persistir, Sixto Jr. ainda brigou por mais 4 anos para manter a pequena fazenda El Corojal sob sua propriedade, mas, em outubro de 1963, o exército de Fidel finalmente a confiscou, junto com todos os bens que guarneciam a casa.

Como outras famílias, os Plasencia decidiram sair do país. Inicialmente foram para o México tentar a vida e sobreviveram com o pouco de dinheiro que seus familiares podiam enviar dos Estados Unidos. Certa feita, Sixto Jr. ligou para seu amigo Júlio Eiroa, a época morador de Honduras, que conseguiu um visto para toda a família Plasencia.

Um fato interessante é que, antes de embarcar, Sixto Jr. enviou um telegrama para Eiroa avisando que estava a caminho. Esse telegrama nunca chegou a casa de Eiroa e quando os Plasencia chegaram em Tegucigalpa, não havia quem os recebesse. Buscando um lugar para residir temporariamente, Sixto Jr. dirigiu-se a um pequeno hotel, onde foi reconhecido por um antigo amigo de Cuba. Este amigo sabia de seu conhecimento sobre a produção de folhas e lhe ofereceu um emprego de imediato, dando início a uma longa conversa até que Angel Oliva apareceu e, também, lhe ofereceu um emprego que teve que recusar, pois já havia aceitado a proposta do seu amigo.

UM NOVO LAR

Alguns meses após se estabelecerem em Honduras, foram contratados pela Caribbean Tobacco e precisaram se mudar para Estelí, Nicarágua, região que contém um solo escuro e denso e está sempre ensolarada, o que geralmente leva folhas de charutos mais fortes e de caráter mais picante. Conforme o mercado crescia, ao longo dos anos 60, outras famílias de origem cubana passaram a se estabelecer em Honduras e Nicarágua. Durante este período Néstor Plasencia permaneceu ao lado de seu pai Sixto Jr., aprendendo e aprimorando a arte de cultivar tabaco.

Em 1967, o contrato de trabalho de Sixto Jr. terminou e os Plasencia mudaram para o Jalapa Valley, região cujo solo é similar ao de Pinar del Rio e passaram a trabalhar com a família Oliva na fazenda La Limonera – assim batizada em razão dos grandes limoeiros existentes na propriedade. Devido ao sucesso de capas de candela curadas em altas temperaturas desenvolvidas por Sixto Jr, a fazenda cresceu rapidamente.

Chega então Néstor Plasencia. Em 1969, ele se formou na Escola Internacional de Agricultura, em Rivas, Nicarágua e foi trabalhar com seu pai. O tabaco elaborado por Sixto Jr. era vendido pela Oliva para as mais renomadas fábricas de Tampa, Flórida.

Três anos depois, Sixto Jr. e Néstor firmaram uma parceria para comprar uma nova fazenda destinada à plantação da capa candela e miolo cubano para venderem à Nicaraguan Cigar Company. Néstor também começou a trabalhar para a Caribbean Tobacco e ficou obstinado em conhecer mais sobre métodos de cura, indo até a Flórida aprender com John Oliva e Pepe Cura, antigos vizinhos de sua família em Cuba.

REVOLUÇÃO SANDINISTA

Sixto Jr. e Néstor estavam em franca ascensão até que, em 1978, as tensões entre os sandinistas e o governo de Somoza atingiram níveis alarmantes. Prevendo o pior, decidiram retornar à Honduras produzir no Jamastran Valley. Embora a primeira plantação tenha sido um sucesso, a Caribbean Tobacco não comprou absolutamente nada, pois o ditador Somoza não se interessava pelo tabaco hondurenho. Ao final, essa adversidade se revelou positiva uma vez que a família Oliva se interessou pelas folhas e acabou fechando o negócio, estabelecendo uma parceria de sucesso.

A situação da Nicarágua se deteriorou e, por volta de 1979, os sandinistas tomaram o poder. Em poucos meses Estelí estava dizimada, as fazendas foram confiscadas e as fábricas queimadas – incluindo a da Padrón, da Nicaraguan Cigar e da Arturo Fuente. Honduras tornou-se, então, a principal fonte de folhas para as fábricas norte-americanas e Néstor Plasencia expandiu rapidamente seus negócios, tendo adquirido uma vultosa fazenda, na qual construiu galpões para o armazenamento das folhas, como a candela e a capa connecticut shade. Foi uma operação muito trabalhosa, que lhe rendeu belas colheitas e lucros.

IDAS E VINDAS

Em fevereiro de 1980, os funcionários de Néstor o acordaram reportando que algo estava muito errado com as plantações. Ao chegar no campo e pegar as folhas de tabaco ele verificou que estavam manchadas. Sem saber o que era, levou as folhas ao seu pai e acabou recebendo a péssima notícia que a plantação tinha sido atacada por um tipo de fungo chamado blue mold, logo, no dia seguinte, ela estaria destruída. E seu pai estava certo.

Por sorte, uma parte já tinha sido colhida e armazenada. Receoso, Néstor reduziu a plantação e aplicou métodos recomendados pelos Oliva, alcançando excelentes resultados. Assim, Néstor aprendeu as particularidades da região, principalmente que se plantasse as sementes de tabaco dois meses antes, evitaria o frio e a umidade que atacava seus campos. Seu sucesso foi tanto que seus credores o ajudaram a quitar dívidas, possibilitando em 1991, abrir uma fábrica em Ocotal, Nicarágua.

A década de 90 é conhecida pelo denominado “Cigar Boom”, o exponencial aumento do consumo de charutos no Estados Unidos, momento no qual os Plasencia operavam cinco fábricas em Honduras e Nicarágua. Enquanto outros fabricantes lutavam para obter tabaco de qualidade, os Plasencia tinham de sobra. Construíram outras fábricas e sua produção continuava a crescer. Em 1994, Néstor Plasencia e seu filho Néstor Andrés retornam para Estelí, onde começam a construir uma nova fábrica em parceria com a fabricante suíça Dannemann. Essa parceria gerou a Segovia Cigars, inaugurada em 1996, e uma cópia exata da fábrica de São Félix – BA, Brasil.

No final do Cigar Boom, Néstor Andrés terminou o curso de engenharia agrícola e foi trabalhar definitivamente com sua família. Na faculdade, estudou sobre agricultura orgânica, de modo que estava determinado a levar este conhecimento para os campos de tabaco, o que não era um processo fácil e muito menos barato, mas com o apoio de seu pai, Andrés começou em um pequeno campo, colocando espetos de alho e outros truques para combater as pragas. A produção foi muito baixa, mas depois de várias tentativas ela foi crescendo e, em 2001, foi lançada a linha Plasencia Orgânica, posteriormente rebatizada de Reserva Original.

Em 2015 tornou-se umas das principais produtoras de tabaco, com mais de 6000 empregados, 4 fábricas e 8 plantações divididas entre Honduras e Nicarágua, produzindo 40 milhões de charutos. Em 2017, adicionaram duas novas linhas: a Plasencia Alma Fuerte e o Cosecha 146, em homenagem a 146° colheita realizada pela família; no ano seguinte, lançaram o Plasencia Alma del Campo. Todas as linhas são feitas com folhas envelhecidas e 100% nicaraguenses.

Depois de 150 anos, entre altos e baixos, o legado da família Plasencia permanece. Com o nome conhecido por aficionados em charutos, a família permanece no dia a dia do controle de qualidade: Néstor Andrés e seu pai cuidam das fábricas e operações, seus irmãos, Gustavo e José Luís, cuidam do centro de distribuição em Miami e importação da marca, Plasencia 1865.

“Nós unimos gerações e pessoas diferentes. Não estamos no negócio de charutos. Estamos no negócio de satisfazer as pessoas, e o meio é o charuto.” – Néstor Andrés

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