La Aurora


Foto: Charlie Minato, via HalfWheel

Um retrato histórico da família que iniciou a moderna produção de charutos na República Dominicana

Por André Caruso e Andre Miltcheim

A fábrica de charutos La Aurora é a semente do maior grupo empresarial da República Dominicana, o Grupo E. Leon Jimenes, que, em 2001, foi responsável por 9.59% das receitas tributárias arrecadadas no país.

Em 1903, aos 18 anos de idade, Eduardo León Jimenes fundou a fábrica de charutos “La Aurora”, na comunidade de Dom Pedro, Guazumal, província de Santiago. Segundo a tradição familiar, o nome da nova empresa foi inspirado na Dona Aurora, esposa de Don Juan Hernández, casal vizinho ao seu pai Antonio León, a principal influência sobre Eduardo nessa empreitada. Seus primeiros charutos eram de formato “Perfecto”, um duplo figurado que até hoje é produzido de maneira muito limitada (apenas 100 unidades por artesão), sob o nome “Preferidos”. Em 1926, o “leão deitado” aparece na primeira anilha da La Aurora. Ele se tornará o símbolo da marca e de todo o grupo.

Em 1930, o Grupo se consolidou com a transformação da La Aurora para E. León Jimenes C. por A. (Sociedade das Ações). Eduardo Leon Jimenes se tornou presidente do Conselho e seu irmão, Herminio, vice-presidente, mas alguns anos depois veio a falecer e Herminio assume a companhia.

Na década de quarenta, Francisco Fernando Arturo Leon Asensio assume o comando e lá permanece por quase meio século, se tornando uma lenda na cultura dominicana do tabaco: sua paixão, seu conhecimento e sua proximidade levaram ao prestígio junto aos produtores do Vale do Cibao.

Foto: La Aurora Cigars

Com a 2ª Guerra Mundial, a exportação de charutos foi interrompida em razão da insegurança dos mares, pois os navios de carga eram constantemente atacados por navios de guerra. A situação se agravou quando o general Rafael Trujillo tomou o poder do presidente Horácio Vázquez, criando uma ditadura que duraria mais de três décadas. Ele tentou assumir o controle de toda a indústria dominicana do tabaco, perseguindo as empresas com a criação de inúmeras barreiras legislativas e tributárias que impediam o desenvolvimento da indústria.

A década de sessenta foi essencial. A fábrica mudou-se para uma nova sede em Villa Progreso, nos arredores de Santiago de los Caballeros, onde começou a produzir cigarros e voltou a exportar charutos para o mundo. Essa renovação somente foi possível com o empenho de toda família, com Eduardo León ficando a frente da empresa, Fernando León sendo responsável pelo cultivo e colheita do tabaco e com os irmãos mais novos, Guillermo e José, assumindo a responsabilidade do Grupo. Após alguns anos, ele assinou um acordo com a Philip Morris Inc. para ter o direito exclusivo de fabricar e vender Marlboro na República Dominicana. O acordo com a gigante americana permaneceu até 2006.

Em 1983, Guillermo León Herbert começou a trabalhar no departamento de logística, embora tenha sido frequentemente levado para os campos de tabaco por seu pai, Fernando Leon, desde que era muito jovem. Seus primeiros passos profissionais no mundo foram dados no verão, quando trabalhava para o Grupo como um funcionário articulado para aprender tudo sobre todo o processo de charutos premium.

Nesse mesmo ano, o Grupo entrou em um novo setor, a cerveja, com a abertura da Bohemia Brewery, produtora da Bohemia, uma marca do tipo pilsener; da Löwenbräu, uma cerveja de malte alemã e da marca internacional Heineken. Pouco tempo depois, o Grupo comprou a Cervejaria Nacional Dominicana, dona da cerveja Presidente e se tornou o líder absoluto do mercado de cervejas no país.

Ao longo das décadas o Grupo multiplicou a estrutura da empresa em todos os sentidos: investimento na melhoria de plantas, diversificação de funções, planos e projetos operacionais, aumento de funcionários, vendas, impostos, benefícios etc.

Em 1987, o Grupo ​​criou sua subsidiária, a Empresa León Jimenes, S.A, que reunia dois grandes conglomerados: o do tabaco, composto pela Agroindustria León Jimenes, S. A., a Industria de Tabaco León Jimenes, S. A. e a “La Aurora”, e o da cerveja, composto pela Cervecería Nacional Dominicana, C. por A. e Cervecería Bohemia, S.A.. Em 1996, foi criada a Indal, S.A., uma empresa dedicada a produção de bebidas, alimentos e outros produtos, comercializados pela Kraft Dominicana.

Ademais, constituíram também a estação de rádio Raíces, que transmite músicas e programas culturais 24 horas por dia, a Fundação Eduardo Leon Jimenes, cuja finalidade é gerenciar projetos socialmente relevantes, participativos e auto gerenciados, com vocação para intercâmbio e colaboração com as comunidades locais, e o Centro Cultural Eduardo León Jimenes, destinado a desenvolver a criatividade através da pesquisa e divulgação de realizações artísticas e a formação de uma sociedade sensível a valores transcendentes.

Em 1995, Guillermo León Herbert assumiu a liderança de La Aurora ao lado de seu pai, Fernando Leon, e retomou o projeto de cultivar folhas de tabaco em Sabana del Puerto, conseguindo folhas de altíssima qualidade e aptas ao longo envelhecimento, que compuseram o charuto comemorativo do centenário da marca: o La Aurora 100 Años, lançado com a ideia de ser uma edição limitada, mas teve que ser incorporado ao portfólio regular devido à demanda do mercado.

A virada do milênio foi excepcional para o Grupo E. Leon Jimenes que, além de conseguir a sonhada dimensão global, diversificou seus investimentos em outros setores, como bancos e editoras, e passou a desempenhar um papel fundamental na arte e na cultura dominicana. O Grupo estava integrado em uma mesma estrutura organizacional, sob o nome comum de Leon Jimenes Group, cujo presidente era José León e o vice Guillermo León.

Em 2004, a revista Cigar Aficionado premiou o La Aurora 100 Años Belicoso como o melhor charuto dominicano do mundo. Em 2010, foi lançada a série La Aurora 107, um charuto mais encorpado e com sabores mais pronunciados.
O pai de Guillermo, Fernando León faleceu em 2009, aos 87 anos de idade. Nos anos seguintes, Guillermo Leon comprou 100% do capital de La Aurora e separou a fábrica de charutos premium do resto do Grupo León Jimenes. Foi um retorno a origem, pois, depois de décadas, a La Aurora voltou a andar por conta própria.

Foto: La Aurora Cigars

Em 2012, a unidade brasileira da Anheuser-Busch InBev, a AmBev, concordou em comprar uma participação majoritária na Cervecería Nacional Dominicana, C. por A. do Grupo Leon Jimenes por mais de US$ 1,2 bilhão, formando a maior companhia de bebidas do Caribe.

Em 2013 voltou a diversificar seus produtos lançando o rum La Aurora comemorativo do seu 110º aniversário, com uma produção de apenas 3.000 garrafas por ano, todas numeradas.

Em 2015, optou por um projeto inovador e único no mundo: o La Aurora Cigar World. É um conceito cujo objetivo é treinar verdadeiros especialistas em charutos premium.

Atualmente, com 118 anos de história, a La Aurora é uma moderna fábrica de charutos com mais de 1100 trabalhadores, que produz mais de 1 bilhão de unidades de cigarrilhas, charutos e charutos premium por ano e tem presença em 67 mercados no mundo.

Foto: Charlie Minato, via HalfWheel

 

Anterior Interatividade e lançamentos marcam o 21º Festival del Habano
Próximo Destilando a Escócia

Sem comentário

Deixe uma resposta