Conheça Omar de Frias, o charuteiro que veio da NASA
Com a participação do Omar de Frias dono da marca FRATELLO,
diretamente de Washignton EUA, com a intermediação do
Daniel Teixeira, da Reality e importador dos charutos da marca,
entrevistado pelo João Granado do CARUSO Lounge, em fluente
PORTUÑOL, tivemos o prazer de conhecer, por vídeo conferência, esta
figura que é o Omar e sua marca FRATELLO.
Vale a pena conferir:
Daniel: Vocês preferem fazer em espanhol ou inglês?
João da Caruso: Ah, espanhol é melhor. Ou melhor, portunhol. O Omar
que trate de se adaptar (risos).
Omar de Frias: Eu falo um pouquinho.
João da Caruso: Olha, nós temos a intenção de falar com você hoje para
transcrever depois a entrevista para o nosso jornal.
Omar de Frias: Eu lembro que já estive aí na Caruso.
Daniel: Ele já visitou o Caruso Lounge, quando veio conhecer o mercado,
numa das noites tomar uns drinks e fumar uns charutos.
João da Caruso: Muito bem, a primeira pergunta que faço a você, Omar:
como você começou a gostar de charutos? Quando e como?
Omar de Frias: Minha primeira experiência com charutos foi na
República Dominicana, eu fui criado ao lado de uma loja de charutos,
que ficava a duas quadras da minha casa. Então, fui criado vendo gente
fumar charutos e nessa época não era muito comum, havia muita gente
que fumava, mas nos estabelecimentos. Hoje em dia, na República
Dominicana, é normal ver as pessoas fumando. Eu via meu avô fumando
e eu me encantava, aquele cheiro me fascinava. A primeira vez que provei
um charuto foi na minha graduação do ensino médio, com 17 anos.
João da Caruso: É muito normal isso nos Estados Unidos, não?
Omar de Frias: Sim, mas eu fui criado na República Dominicana.
João da Caruso: Ah, neste momento você estava na República
Dominicana e não nos Estados Unidos, é isso?
Omar de Frias: Isso, estou falando da República Dominicana apenas.
Lá que eu quis aprender sobre, eu gostei do gosto que sentia na minha
boca, sentia a diferença dos sabores. Então foi quando eu comecei a
comprar, os bons charutos ou os que eu podia pagar. E até hoje, já com
42 anos, sigo fumando toda semana.
Omar de Frias: Eu tenho uma coleção muito grande de charutos,
principalmente nos últimos oito anos, pois cada vez que faço uma mistura
nova, tenho que provar mais 50, 60 linhas diferentes e cada linha tem 20,
30, 40 charutos. Minha ex-esposa me perguntava o que eu iria fazer com
tantos charutos, e eu dizia que tinha que prová-los, aliás eu fumo meus
próprios charutos.
João da Caruso: Por isso te perguntei se estava morando nos Estados
Unidos, porque escutei que você trabalhava na NASA, é isso?
Omar de Frias: Sim, então, eu nasci em Porto Rico, aos nove meses fui
para a República Dominicana com minha família. Fui criado lá em Santo
Domingo, fiz escola secundária e primária lá, além da universidade. Aí
fui pros Estados Unidos, em Rochester, NY, fiz RIT (Rochester Institute
of Technology), onde fiz curso de relações internacionais. Logo depois
fui a Porto Rico onde fiz MBA em finanças. Nessa época a NASA
estava contratando em Porto Rico (foram +400 candidatos) e apenas
dois selecionados. Um foi para a Flórida e eu fui para Washington DC.
Atualmente moro em Washington DC.
João da Caruso: Então te pergunto: seu maior negócio de charutos é nos
Estados Unidos?
Omar de Frias: Sim. Mas hoje já temos 15 países representando
a marca, como: Noruega, Espanha, Holanda, Alemanha, República
Tcheca, Tailândia, República Dominicana, Nova Zelândia, Austrália
e, recentemente, temos a Suíça. Estamos crescendo bastante e de uma
maneira bem orgânica, porque eu não estou pagando 20, 25 mil dólares
para estar na “Cigar Aficionado” – chegará o momento, mas ainda não
estamos lá.
João da Caruso: Sua produção está toda concentrada na República
Dominicana, não?
Omar de Frias: República Dominicana e Nicarágua, onde eu contrato
a produção com Joya na Nicarágua e com La Aurora na República
Dominicana. Eu não me considero um master blender, mas gosto de
provar para ver se é verdade. Eu respeito as pessoas que têm muita
experiência. Uma coisa é sua percepção sobre o que você gosta, mas
outra pessoa pode ver por outro ponto de vista, uma outra pessoa pode ter
200 outras notas que podem impactar em um charuto específico.
João da Caruso: Perfeito! Omar, como surgiu o nome Fratello?
Omar de Frias: Fratello é meu apelido. Ele surgiu durante minhas aulas
de italiano, porque me chamavam de Fratello, que significa meu irmão.
Me chamavam de Fratello por ser um apelido carinhoso a irmão.
Hoje temos 5 linhas na Nicarágua e uma na República Dominicana.
João da Caruso: E qual você gosta mais?
Omar de Frias: Os dois têm seus estilos particulares. O legal do da
Nicarágua é que o Master Blender sempre avalia meu paladar. Eu digo:
“olha, eu gosto deste por isso” e ele me dá outros caminhos: “por que não
trabalha com este também?”
João da Caruso: E como você escolheu esta fábrica? Como você foi
parar lá para produzir seus charutos?
Omar de Frias: Com o Joya de Nicaragua, eu tive esse momento
trabalhando com o José Blanco, que foi o vice-presidente de vendas
do La Aurora por muitos anos e, nesse processo, nessa época, ele foi
trabalhar com o Joya.
João da Caruso: E é muito interessante também sua disposição de sair
da NASA, onde ganhava muito dinheiro, e começar do zero em outro
setor. Como foi isso?
Omar de Frias: Por isso estou careca. (risos) Estou trabalhando muito e
ganhando pouco. Foi um desafio, mas, ao mesmo tempo, foi uma grande
oportunidade, porque todos estavam saindo da indústria. Eram marcas
atrás de marcas que estavam indo [embora], porque as regulamentações
legais levam muito tempo.
João da Caruso: Aí você foi pra uma feira tentar vender e não conseguiu,
certo?
Omar de Frias: Então, é que estava muito difícil, porque tinha muitas
pessoas novas. Nesta feira, IPCPR de 2013, havia 100 novas marcas e
empresas, que têm muitas marcas dentro delas. Isso sem incluir as novas
marcas que as grandes empresas estavam lançando. Foi um ano de um
‘boom’ muito grande de pequenas empresas.
João da Caruso: Nos Estados Unidos, acredito eu, não é como no Brasil
hoje. Você faz a venda/distribuição diretamente com as lojas, assim
podendo distribuir seu produto para todo o país?
Omar de Frias: Exatamente. Somos uma marca, mas fazemos negócio
diretamente com as lojas nos Estados Unidos. É muito mais trabalho,
porque tenho que fazer a função do Daniel, mais o trabalho da marca, são
muitas coisas. Nós aqui, é segmento, venda, envio e depois abastecimento
ao estabelecimento.
João da Caruso: Como você vê o mercado de premium cigars?
Omar de Frias: Aqui nos EUA há um boom de charutos de uma forma
impressionante. Estamos passando por um fenômeno, as pessoas por
estarem em casa fumam mais charutos e compram em maior volume.
Antes, compravam 5, 6, hoje, compram uma caixa de 10, caixa de 20.
Omar de Frias: Na República Dominicana também houve um boom.
Uma coisa impressionante. A Noruega também, eles dobraram seus
negócios em charutos no ano passado.
João da Caruso: Na Europa teve uma invasão off-cuba, recentemente.
Omar de Frias: Graças a Deus. (risos)
João da Caruso: Tem clientes que não querem saber de nada a não ser
cubanos, como fazer o cliente experimentar coisas novas?
Omar de Frias: Uma forma que faço para burlar isso é, por exemplo,
uma pessoa que eu estava falando na Espanha, me disse que os cubanos
eram os melhores, eu só escutei e ao longo da conversa ele disse que
tinha um vinho ótimo, mas que era espanhol. Aí eu lhe disse: “para mim,
os melhores vinhos são franceses, então eu somente provo os vinhos
franceses”. Foi quando ele percebeu que os outros países podem ter
coisas boas também.
Omar de Frias: Outra forma que eu vi, quando estava na James J. Fox
em Londres. Veio um senhor e pediu para comprar um Romeu y Julieta.
O dono da loja pegou um e começou a tocá-lo para analisar a qualidade
e o entregou ao cliente. Aí, o mesmo senhor pediu um Joya de Nicarágua
Black, desta vez, o vendedor só pegou e entregou. O comprador perguntou
se esse ele não iria tocá-lo para ver se estava bom, e o dono da loja
respondeu que com esse ele não teria que fazer isso. Porque a construção
é diferente. É uma linha de produção com controle de qualidade muito
maior do que os cubanos.
João da Caruso: Você tem ideia da quantidade de cubanos e de não-cubanos que se produzem?
Omar de Frias: Claro, sim, tenho ideia. Os cubanos hoje tem uma
produção de 70 a 80 milhões de charutos por ano. Hoje, a Nicarágua está
produzindo mais que a República Dominicana e, se eu não estiver errado,
a República Dominicana está produzindo cerca de 100, 150 milhões de
charutos e a Nicarágua está acima já.
João da Caruso: Em qual país tem um FDA (agência reguladora dos
EUA, como a Anvisa) mais complicado?
Omar de Frias: Olha, vou dizer uma coisa: o número um é o Brasil,
mas isso é interessante porque requer protocolos, requer informações que
temos que mandar para passar por aprovação e em nenhum outro país
tivemos esses problemas.
João da Caruso: E já que estamos falando do Brasil, eu me lembro
que você gosta de uma folha de fumo brasileira? E o que você acha dos
charutos brasileiros, dos da Bahia?
Omar de Frias: Ah, gosto das arapiracas. Sou fanático pelas arapiracas,
um dos charutos que eu mais gosto tem essa capa. Nós temos alguns
problemas para conseguir este tabaco na Nicarágua para produzir em
grande escala. O que eu pensei em utilizar para esse tipo de tabaco, foi
uma produção limitada. Já temos algumas amostras dela, inclusive na
República Dominicana já estamos produzindo, porque a La Aurora tem
melhor acesso a esse tabaco na Nicarágua, mas eu não trabalho em muitas
linhas com esse tabaco brasileiro. Mas, o La Aurora tem.
João da Caruso: Como aconteceu o casamento com o Reality? Como se
conheceram? Como começaram?
Omar de Frias: Então, eu tinha uma uma concepção de que o Fratello
Joya deveria estar em todas as partes do mundo, eu já tinha feito contato
com 3 a 4 pessoas que eu sabia faziam a distribuição no Brasil e, entre
elas, estava a Reality. Então eu entrei em contato com este tal de Daniel e
disse: olha, obviamente que me interessa todo este mercado, ainda mais
na América Latina e América Central, porque tendo o Brasil eu teria
80% de todo o mercado latino-americano de charuto. Então, o Daniel
me respondeu dizendo que não havia escutado sobre a marca, mas que
adoraria receber-me e ver que tipo de produto eu tinha, que eu trabalhava.
E foi assim que aconteceu: coordenamos a viagem, começamos a falar
de charutos, tivemos uma reunião e nos tornamos tão amigos que ele já
veio aqui em casa e fizemos uma bela carne à moda brasileira. Então, nos
conectamos muito bem, depois estivemos em Las Vegas, na Flórida, em
Dortmund.
João da Caruso: O Daniel começou há pouco tempo no mercado, né?
(risos)
Daniel Teixeira: Sim, há poucos anos. Desde 95 que a gente tem a
Reality e a primeira marca premium que a gente trouxe a Arturo Fuente
em 96. E, desde então, a gente vem aumentando a linha premium.
E, principalmente, em um passado mais recente, de 2012 pra cá, que
começamos a aumentar o portfólio de charutos.
João da Caruso: Omar, quando virá ao Brasil novamente?
Omar de Frias: Eu estou louco pra ir. Estive no Guarujá, em Santos.
Estou disposto a voltar a qualquer momento. Gosto muito do Brasil.
João da Caruso: Foi um prazer. Muito obrigado e tenha um bom dia!
Omar de Frias: Foi ótimo, muito obrigado, irmãos.
