Late Harvest parte 1


Foto: André Zanete

Talvez essa seja uma das harmonizações mais certeiras que existem quando trata-se de vinho late harvest, ou também conhecido como vinho de sobremesa. Mas o que vem a ser e o que leva a crer que o vinho de sobremesa é o único estilo de vinho a harmonizar com charutos?

Por Aldo Assada e Cláudio Haase

Talvez é uma palavra utilizada quando não temos certeza absoluta. Ou também a utilizamos quando queremos levar um determinado assunto para um patamar em que a dúvida deixa de ser um benefício e cria-se expectativa pelos experimentos. Todo mundo crê nisso nas harmonizações: experimentar, provar, sentir. Regras? Muitos estudam as regras básicas da harmonização. Ir além, exige muito estudo e um pouco de intuição. Uma prova disso é que a harmonização entre vinhos de sobremesa e charutos parece ser um bem comum, previsível, esperado, baixa expectativa devido ao óbvio.

Será? Para essa matéria, resolvemos criar uma pequena parte da harmonização de late harvest e charutos. Por ser um universo abrangente ,em que transitaremos entre vinhos meio secos, meio doces, doces, fortificados, botrytis e espumantes doces, vamos dividi-la em pequenas etapas para que você, caro leitor, possa ter um pequeno guia através dessas matérias.

Nosso convidado para esta matéria é o associado Luciano Chohfi, apreciador de puros e que por vezes, envereda sobre o mundo dos mostos fermentados de uva.

Do que é composto um vinho de sobremesa?

De maneira simples e prática: é um vinho que foi feito com uvas com alta concentração de açúcar, seja ela de forma natural ou adicionada. A nobreza e a finesse de se adquirir de forma natural constroem vinhos extraordinários porém poucos são os que ousam produzi-los uma vez que tão somente o clima é fator determinante para certos estilos de vinhos como por exemplos os tranquilos (vinhos tido como secos) mas não necessariamente é o mesmo espaço para os vinhos de sobremesa. Também é necessário um bom conhecimento para sua elaboração. Alguns enólogos, por conta de demanda de mercado, o fazem por conhecimento teórico mas o resultado prático nem sempre é traduzido em garrafa. Outros, entretanto, são fantásticos, conseguem um vinho soberbo, de uma incrível beleza aromática, grande profundidade porém são caros e de baixa demanda de mercado. Talvez isso explique o porque alguns enólogos preferem produzi-los de forma muito simples como usar uvas bem maduras ou adicionar açúcar para complementá-los mas sem nunca obter a elegância de uma doçura fina e eterna.

O charuto escolhido: H. Upmann Robustos Añejados

Foto: André Zanete

Um charuto de força média, medindo 124mm de comprimento por 50mm de diâmetro. Os charutos añejados são envelhecidos por um período que varia de cinco a oito anos. Em razão do período de guarda, o charuto estava bastante equilibrado, com aromas de madeira e um sabor sutil de especiarias.

Os vinhos escolhidos foram de estilos e países distintos: um argentino (Susana Balbo Malbec Late Harvest 2015), um austríaco (Alois Kracher Spatlese 2016) e um húngaro (Royal Tokaj 5 puttonyos 2013).

Porquê três vinhos de sobremesa de países tão distintos?

Por serem de estilos distintos, escolhemos 3 vinhos que representassem um tinto de sobremesa, um meio doce e um botrytis. Nos três casos são vinhos que podem possuir níveis de doçuras distintos mas que por, supostamente, possuir boa acidez é presumido de uma boa harmonização com os charutos. Além disso eles possuem posicionamento de mercado e custos completamente distintos.

1. Susana Balbo Malbec Late Harvest 2015 (Mendoza – Argentina)

Susana Balbo é uma famosa enóloga da Argentina. Extremamente meticulosa, seus vinhos são todos feitos com muito cuidado e dotados de conceito enológico embora não deixem por sobrepujar o poderio do terroir local. Fez parte da leva de enólogos que constroem vinhos modernos, limpos, polidos e intensos. Foi enóloga também da Catena, tornando seus vinhos famosos no mundo inteiro. Este late harvest de uva tinta é maturado em 18 meses em barricas de carvalhos franceses; de cor púrpuro profundo, tem aromas de violetas secas e especiarias doces. A acidez volátil também o acompanha em alguns momentos. Em boca é macio. A doçura e a acidez é média porém sem tanta profundidade. Ao harmonizar com o H Upmann, na primeira baforada ele amarga porém ele suaviza posteriormente no fim de boca. Já no segundo e terceiro terço do charuto, nota-se como o corpo do charuto começa a dominar a intensidade do vinho.
Aonde comprar: vivavinho.com.br
Preço médio: R$ 140,00

2. Alois Kracher Spatlese 2016 (Burgenland – Áustria)

A Áustria produz grandes vinhos brancos e de sobremesa. Embora sejam poucos conhecidos no mercado brasileiro, existem produtores muito representativos como o Alois Kracher. Este blend de 45% Pinot Blanc, 45% Chardonnay e 10% Welschriesling é saboroso, fresco e crocante e de corpo médio. A sua doçura é balanceado pela boa acidez, o que não o torna enjoativo sendo possível bebericar somente ele como um bom aperitivo antes dos jantares. Ao harmonizar com o H Upmann, a harmonização é boa nos três terços do charutos com o senão do fim de boca, em que o charuto sobressaia sobre o vinho. Ainda sim, ele foi um dos preferidos do Luciano Chofhi.
Aonde comprar: grandcru.com.br
Preço médio: R$ 89,00

3. Royal Tokaj 5 puttonyos 2013 (Betsek – Hungria)

Um dos vinhos mais afamados do mundo, os Tokaj (pronuncia-se “tokai”) são famosos por vinhos botritizados, em que o fungo da podridão nobre torna ele um verdadeiro néctar. Saboroso, intenso e perfeitamente equilibrado, este é o que gerou maior expectativa e que, de fato, melhor harmonizou com o H Upmann. Aromas que vão desde mel, amêndoas a pão de centeio e açafrão (características aromáticas da Botrytis). Equilibrado na acidez e de nível alto de açúcar residual (155 gramas por litro), harmonizou de maneira perfeita com o charuto, que não só não sobrepujou o aroma e o sabor do vinho como enalteceu as qualidades do charuto.
Aonde comprar: bancadoramon.com.br
Preço médio: R$ 550,00

Conclusão final

Era possível dizer de forma generalizada e superficial que os vinhos de sobremesa são os ideais para harmonizar. Nosso ponto de vista era provar parcialmente que esse conceito não é totalmente válido e que pode-se variar de caso a caso. Os vinhos botrytis tendem a ser mais doces que qualquer outro late harvest comuns no mercado mas nem todo vinho botrytis será perfeito com os charutos.

Será? Aguardem pela segunda parte de Charutos e Vinhos de Sobremesa.

Foto: André Zanete
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