Entrevista com o Empresário Glauco Splendore


AL MARE

Caruso Journal entrevista o empresário Glauco Splendore, que considera fumar na praia “uma coisa mágica”

POR DIEGO VIANA

Glauco Splendore, 52 anos, é um fu­mante com ideias pouco convencio­nais: sua dica para tornar um bom charuto ainda mais saboroso é nada menos que deixar acumular maresia. Engenheiro mecânico de formação e designer com mais de 30 anos de experiência no ramo automo­bilístico, aproveitou seu gosto por detalhes para modernizar a ergometria dos escudos da polícia e, mais tarde, para projetar um carro-forte cujo peso não prejudica o calçamento das ruas históricas do centro de São Paulo.

Apaixonado por charutos graças a uma dica do político Orestes Quércia (1938-2010), Splendore criou seu próprio blend a partir de uma viagem originalmente projetada para o descanso. Depois de 15 anos trabalhando no se­tor de segurança do grupo Klein, o empresário comprou a tabacaria Epicure, com seis ambien­tes diferentes, projetados para ser um a extensão da casa dos convivas. Por conta do casamento do gosto por detalhes com o amor pelo tabaco, tem prazer em explicar por que o smoking tem esse nome e por que os charutos têm anilha.

No início dos anos 1990 foi um dos pri­meiros empresários a investir na blindagem de automóveis no Brasil. Hoje, prepara-se para abrir uma nova blindadora, apostando na qua­lidade do serviço como diferencial, com fer­ramentas de primeira linha e funcionários es­pecializados. Acoplando o showroom, a área da blindagem e o espaço dos testes balísticos, o empresário promete ao cliente uma experi­ência completa, ensinando como lidar com as particularidades de um carro blindado.

Como você começou a fumar charutos?

Aprendi a fumar em 1984, graças a Orestes Quércia, que era o governador do Estado de São Paulo e amigo da minha família. Eu esta­va em Campinas, e a duração da viagem de lá para cá era o tempo que se levava para fumar um charuto. Quércia fumava Partagas D4. Ele me ensinou a fumar para não dormir na estra­da. Eu já tinha dormido duas vezes a ponto de capotar. Ele disse: “deixe o charuto aceso, com o vidro abaixado dois dedos, o ar-condiciona­do dois pontos mais frio e a música três níveis mais alta que o ideal”. Eu nunca mais dormi na estrada. E comecei a gostar do charuto.

O que o charuto representa para você?

O charuto é um estado de espírito. Quando você não está muito bem, ele é um compa­nheiro. Quando está bem, é o melhor com­panheiro. Quando está com outros amigos, ele completa a roda.

Ao sair do grupo Klein, você criou seu blend e comprou a Epicure. Como veio essa ideia?

Quando venderam o grupo, vi a oportunidade de tirar um ano sabático para pensar no que fazer. Não gosto de ficar parado, não consigo. Esse sa­bático durou duas viagens. Não durou dois meses.

Viagens para onde?

Fui a Cuba para dar uma olhada. Já estava com a ideia de desenvolver um blend. O sabático re­almente não aconteceu. Já fui para um lugar que tinha algo a ver e só aproveitei para olhar a pai­sagem. Com essa ideia desenvolvida, pensei que daria uma bela sinergia ter uma casa de charutos. Comprei a Epicure. Fiquei 15 anos nas Casas Bahia e era um ambiente muito fechado. Quan­do saí, cadê meus amigos? Cadê o telefone? Para juntar todo mundo rapidamente, nada melhor que a sinergia do charuto. Daí a tabacaria.

Sua marca foi desenvolvida na América Central. Por quê?

Para ter entrada nos EUA. Senão seria um pro­blema. Se desconfiam que o tabaco, ou mes­mo a semente, vem de Cuba, mandam para um instituto em Londres, que desmembra todas as folhas e analisa. Conheci o dono da fábrica La Aurora, uma das maiores do mundo, na Repú­blica Dominicana, e ele topou fazer.

Por quanto tempo você ficou no comando da Epicure?

Três anos, mais ou menos. E sempre quis voltar para a área de segurança. Lá dentro eu encontrava muitos clientes. Eles reclama­vam do serviço das blindadoras, então deci­di voltar para onde consigo fazer diferença. Para ter o nível que quero entregar preciso ter qualidade de ponta a ponta do processo. As instalações, os funcionários, as melho­res ferramentas que existem, para colocar o melhor vidro, a melhor manta, os melhores insumos. Não tem como sair porcaria. Mo­déstia à parte, sai perfeição, a ponto de eu fazer um teste balístico real, que fiz pela pri­meira vez há 17 anos, e até hoje ninguém mais fez. E vamos realizar este ano um novo teste, com armamento ainda mais pesado.

Por que a praia é um lugar especial para fumar charutos?

Eu me sinto bem lá. Degustar um charuto à beira-mar é outra coisa. A primeira coisa que faço quando chego é abrir o umidor. Deixo pegar aquele ar marinho a noite intei­ra na capa. Deixo o charuto pegar a maresia, que vem de frente, é fina, gostosa, pratica­mente um orvalho, e fumo depois. É uma experiência diferente.

Glauco, você fala em Método Splendore. O que é isso?

O Método Splendore foi um nome que cria­mos para a nossa forma única de administrar a empresa e manter sempre os parâmetros técnicos e de gestão, em que conseguimos ser os melhores em cada detalhe. No mer­cado existem diversas blindadoras. Mas não somos mais uma blindadora, somos a melhor empresa em proteção por meio de blindagem. O Método Splendore é a obsti­nação de fazer perfeito. Não existe hipótese de erro. Vários aspectos são considerados. Não posso contar detalhes, mas, por exem­plo, nunca sairemos com o carro para testar nada, temos o que há de mais moderno no mundo para fazer todos os testes sem pre­cisar sair. Estamos antenados com o que há de mais atual. Experiências que estão sendo feitas em algumas universidades do mundo, em que a água substituirá a manta nos co­letes dos policiais. Formulações de vidros muito mais leves e resistentes. Acompanhar, por meio de nossos parceiros no mundo, o que existe e está sendo desenvolvido para melhor proteger o nosso cliente. Buscamos modernidade tecnológica, temos paixão por fazer bem feito, por fascinar o cliente. Só uma coisa é mais importante que o desejo de nosso cliente: a segurança dele.

Devemos entender que o serviço de vocês é muito caro?

Não somos a mais cara blindagem do mer­cado. Temos preços altamente competitivos, embora não disputemos valores. Buscamos qualidade, competência, saber fazer melhor, superar sempre. Procuramos os maiores es­pecialistas em gestão, em marketing. Na área de proteção e blindagem, não economizamos e nunca economizaremos. Entendemos que a vida do cliente é tudo. Mas conseguimos redu­zir custos usando técnicas únicas no mercado brasileiro. Mas nunca, repito, nunca mexemos na qualidade. Afinal lidamos com vidas.

De onde vem o termo smoking?

Charuto não se bate, charuto se roda. Dei­xa-o morrer elegantemente. Por isso vem o smoking. Você está fumando e, uma vez que não se bate a cinza, você a deixa cair. Mas também não vai deixar queimar a sua roupa. Então tem o peito de seda no smoking. Você está conversando, cai a cinza, ela roda e vai embora. É para fumar.

E qual é a origem das anilhas do charuto?

A anilha foi inventada na década de 20 por­que se usavam luvas, e as brancas amarela­vam. Então um fabricante resolveu colocar uma seda. O outro, mais esperto, colocou a marca. Começaram as anilhas.

ÚLTIMO TERÇO, POR ANDRÉ CARUSO

Além da sua própria marca, qual é o cha­ruto que você mais aprecia?

É o Cuaba Salomones. Todo charuto figurado é feito por um tabaqueiro de nível superior, que tem o dom. Tanto pode ser uma criança quanto um idoso. Tem gente que vai completar 30 anos fabricando charuto e não vai fazer um figurado Salomones. A queima é perfeita. E o Cuaba tem uma queima ainda melhor do que o Partagas.

Qual é a melhor bebida para harmonizar?

Acredito que o Gran Maestro, Havana Club, de 12 anos, seja muito gostoso. Tem uma pe­gada forte sem perder o aroma e o sabor.

Que país falta para você conhecer?

A China. Por causa da diversidade desse país.

Em que lugares você gosta de fumar?

À beira-mar. Muda tudo, é uma coisa mágica.

Sozinho ou acompanhado?

De preferência, com um bom amigo.

O que está achando do novo rumo de São Paulo com João Doria na Prefeitura?

Acredito muito no empresariado e pouco na política. Acho que com o empresariado à frente da administração pública vai ser uma das me­lhores fases da vida dos paulistanos.

Tem algo na sua vida que você não fez e gostaria muito de fazer?

Andar de submarino. É um sonho.

Não existe mais história.
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