Entrevista com Marcos Amaro


Marcos Amaro e André Caruso na galeria Kogan Amaro, localizada no Jardins (Foto: André Zanete)

Artista plástico e grande colecionador de arte

Por André Caruso

Nascido em 27 de setembro de 1984, em São Paulo (SP) Marcos Amaro é empresário, artista plástico e colecionador de arte. Estudou economia na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e formou-se em filosofia pelo Instituto GENS de Educação e Cultura. Como desenhista e escultor, realizou exposições em grandes museus e centros de cultura pelo mundo e participou de feiras internacionais como SP-Arte, Art Basel e Art Zurich.

À frente da Fundação Marcos Amaro (FMA), apoia projetos de arte e cultura. Em 2018, fundou o museu Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), em Itu, onde expõe a público sua coleção de quase 2 mil obras. Com curadoria inventiva, a FAMA tem raridades plásticas que vão de Aleijadinho a Tunga, passando por Leda Catunda, Nelson Leirner e muito mais — a entrada é franca.

Marcos também é idealizador da FAMA Campo, um museu de land art a ser inaugurado em Mairinque ainda em 2019. E, junto da esposa, a pianista russa Ksenia Kogan, comanda a Galeria Kogan Amaro, em São Paulo, com portfólio de 30 artistas de estilos variados — entre eles, Isabelle Borges e Daniel Mullen, também em cartaz na Bienal.

Atualmente, Marcos é conselheiro do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

Visitamos sua galeria, localizado nos Jardins, para um bate-papo e agora compartilhamos com vocês nossa conversa. Me conta um pouco sobre sua história. Como começou sua vida profissional?

Bom, comecei minha vida profissional empreendendo. Foi quando eu abri a Amaro Participações, em 2004, e trouxe a representação da TAG Heuer aqui pro Brasil e logo em seguida trouxe também da marca francesa Alain Mikli. Trouxemos essas duas marcas e nos posicionamos no mercado de luxo, através do diferencial dessas duas grifes. E depois eu comecei a ver o varejo com bons olhos, a enxergar as oportunidades, e com isso apareceu a oportunidade de comprar as Óticas Carol.

Como foi essa trajetória nas Óticas Carol?

O mercado de luxo é muito interessante, como você bem sabe. Mas o negócio dos óculos era o empecilho para o nosso crescimento, porque as principais marcas de óculos do mundo estão na Itália e pertencem a um grupo que detém, hoje, de 70% de participação do mercado mundial, que é a Luxottica. Esse grupo tem hoje mais de 16.000 óticas, então eu não tinha como ter acesso a outras representações importantes. Então era um negócio interessante do ponto de vista de cash call, porque eram duas marcas de grife em um momento interessante do mercado de luxo no Brasil, mas eu não tinha como expandir. Em contraponto, o varejo era uma oportunidade de se investir, então pensamos: “Como vamos entrar no varejo? Vamos adquirir uma rede que já existe ou vamos montar uma do zero?”. Achamos melhor adquirir uma rede, então compramos, na época, 65% da empresa e ao longo dos anos compramos 100%.

Como estava a empresa na época que assumiu? Quantas lojas tinham?

Tinham 200 lojas quando começamos, mas nenhuma loja própria. Na verdade tinham cinco próprias, mas eram muito pequenas e também não tinha laboratório, que hoje é um grande negócio das Óticas Carol, que faz as lentes e as marcas próprias. Então nós desenvolvemos uma plataforma, investimos no laboratório, em marcas próprias, centro de distribuição, logística e criamos uma boa negociação com os fornecedores, então nós mais que dobramos a quantidade de lojas, foi para 550 a quantidade. Então isso possibilitou o crescimento da plataforma e viabilizou a aquisição, vamos dizer assim. Depois nós vendemos para um grupo, que veio a ser comprado pela Luxottica. Hoje deve estar com mais de 1000 lojas, cresceu bastante.

Logo após a venda, começou a focar mais no seu hobby? Me conta como surgiu essa paixão por arte.

Desde criança eu gostava de desenhar, ainda gosto na verdade. Na época da TAM, com meu pai, eu sempre ia nos hangares e ficava desenhando as aeronaves, então eu sempre tive isso como uma grande paixão. Mas eu precisei me estruturar para ter esse tempo, para me dedicar mais a arte, porque, ainda hoje, podemos distinguir a arte do mercado de arte, são coisas diferentes. A arte qualquer pessoa que tenha sensibilidade pode fazer um desenho, uma pintura ou escultura, é uma coisa que é um conhecimento humano que existe inerente a todos nós. Já o mercado de arte é outra coisa, é como qualquer outro mercado e eu entendi isso e separei. Hoje eu entendo que uma coisa é minha produção, que vem dessa raiz dos desenhos que eu fazia lá trás, e que depois veio a se tornar as assemblagens que eu fazia dos aviões. Isso é uma coisa que eu faço, porque até perdi meu pai em um acidente, uma tragédia, então isso, eu acho, me alimentou durante muito tempo, e foi uma maneira de ficar perto dele e de me ajudar a superar um trauma. Hoje eu já consegui entender melhor isso, então eu continuo fazendo arte por prazer mas também quis entrar nesse mercado.

Podemos dizer que esse seu prazer virou um trabalho?

Isso mesmo.

Quando e como você começou com a galeria?

Comecei a fazer uma coleção em 2008 e ao longo desses dez anos adquiri mais de 2000 obras, sendo que grande parte delas está no museu que estamos construindo em Itu, em uma fábrica que se chama FAMA – Fábrica de Arte Marcos Amaro, e dentro dela existe esse acervo de arte contemporânea, também de arte moderna, acadêmica e barroca. Nós disponibilizamos esse acervo de uma forma bem contemporânea, em uma fábrica antiga. Além disso estamos criando outro serviços, como hotel e restaurante, para que os visitantes tenham uma experiência completa, quem sabe até construir uma Caruso lá (risos).

Caso nossos clientes e associados tenham interesse em visitar, ela é aberta ao público?

Sim! Será um prazer recebê-los em nosso museu, abrimos todas as quarta a domingo, das 10h às 17h. Esse ano já recebemos mais de 10 mil visitantes, um número bem expressivo. Estamos com uma exposição muito importante em cartaz, que é do Bispo do Rosário e da Louise Bourgeois e temos atraído muitos visitantes pela relevância das exposições que temos feito no local. De toda forma, a gente pretende criar um concert hall de 800 lugares, como minha mulher é concertista ela vai me ajudar viabilizar esse lado musical dentro da plataforma. Mas de fato o projeto é um projeto de arte, que abriga essa coleção. Então todo o trabalho que estamos fazendo é também de valorização da coleção e da aproximação do público, não só de São Paulo mas também com o público que vem de fora do Brasil e com o que vem do interior. Esse é o projeto que se chama FAMA. A galeria é uma outra coisa, que também não tem a ver com a minha produção de arte, porque eu não me represento como artista. Temos uma unidade aqui em São Paulo, na Alameda Franca, e uma unidade em Zurique, na Suíça. Nós levamos arte brasileira para lá e pretendemos representar alguns artistas suíços aqui no Brasil.

Exposição “Bispo do Rosário: as coisas do mundo” (Foto: Daniela Noronha)

Me responde uma coisa que eu sempre tive curiosidade: qual a diferença entre a cultura da arte no Brasil para o Europeu e Americano?

A tradição. Eles têm mais tempo de história, digamos assim, principalmente o europeu mas o americano se emancipou muito também no mercado. Como tudo nos Estados Unidos, o mercado também é maior que no Brasil e imagino que seja o maior do mundo hoje. E o europeu tem muita tradição e é muito criterioso, então quando vai comprar um trabalho ele procura saber quem é o artista, seu histórico, o porque do preço de seu trabalho, ele estuda e acompanha, quer saber a relevância do artista para a história da arte, ele exige essa qualidade. Já o brasileiro é mais espontâneo e mais impulsivo, geralmente olha mais para arte pensando em decorar a casa. Não que isso não tenha seu valor, mas é que o entendimento da história da arte é um pouco menor no Brasil, em função da falta de aproximação. Eu acho que com o tempo, esse interesse vai aparecer.

O que influencia no preço da obra? Porque eu escuto muita gente dizer que compra por um preço mas na hora de revender é outro.

Como a arte é subjetiva, o preço também pode ser, é muito diferente de um trabalho para outro. Você precisa estar atento na qualidade do artista e na relevância que ele tem. Quando você olha um artista, é preciso saber qual fase do artista estamos falando. Porque muitas vezes uma fase é mais relevante que outra. Por exemplo, um clássico, Picasso. A fase azul e a fase rosa valem muito mais que a fase do surrealismo e do cubismo, mas não quer dizer que são melhores, isso é controverso. Então é interessante entender essas particularidades na hora de comprar um trabalho. É importante também saber se a galeria te dá uma certa garantia de recompra, não que ela se obrigue, mas ela ajuda o cliente a poder revender.

No universo dos charutos existem as confrarias, existem grupos de colecionadores de artes?

Existem, mas são pequenos. De fato, eu posso te dizer que no Brasil existem mais ou menos uns 10, 20 colecionadores no máximo, ou seja, que acompanham os artistas de maneira sistemática e contínua, ainda são poucos. Eu me considero um colecionador de verdade, porque estou todo dia acompanhando o mercado. Atualmente temos compradores eventuais, ligados mais ao mercado de decoração, igual eu disse anteriormente. Esse é o maior nicho. Colecionadores sistemáticos, que compram a arte como investimento, são raros. Trabalhamos todos os dias para aumentar e difundir essa cultura no Brasil, a arte tem um poder de preservação do valor com o tempo.

Quem são os artistas que você mais admira?

Eu vou falar por paixão e naqueles em que me inspiro no meu trabalho. Brasileiros têm o Nuno Ramos, que é inclusive colega meu e que tem um trabalho que eu gosto muito e admiro; gosto muito também do Hélio Oiticica, que é um artista do Rio de Janeiro mas que já faleceu, ele é um artista que reinventou muito dos suportes tradicionais da história da arte e que rompeu com muitos paradigmas, sendo um artista brasileiro muito importante. Dos clássicos, gosto muito dos pintores viajantes que vieram para o Brasil, no séc XIX, para pintar as paisagens, principalmente a escola italiana. Respondendo a sua pergunta, a nossa história com a arte é recente, porque ela começa no século XIX com esses pintores viajantes, principalmente italianos. Mas se você olhar o mapa do Brasil, Pernambuco recebeu muitos pintores holandeses então você tem uma influência da escola holandesa, que é muito diferente da escola italiana. Porém, é importante ressaltar que no barroco você tem um cara como o Aleijadinho, que fazia coisas maravilhosas para a igreja, uma questão mais de arte sacra. Então antes, a arte se submetia a esse poder religioso, enquanto hoje ela se submete ao mercado.

Mudando de assunto. Você já fuma charutos há algum tempo, então eu queria saber quais são os charutos que mais te agradam.

Gostei muito desse CR, achei excelente inclusive pelo custo benefício. Gosto muito do Davidoff Signature 6000, do Romeo y Julieta Churchill e toda a linha da marca Hoyo de Monterrey.

Quando que você começou com os charutos?

Meu pai fumava charutos, então eu cresci nesse ambiente.

Me conta mais sobre você, quais são seus outros hobbies? Para onde gosta de viajar?

Arte 100%, praticamente (risos). Está misturado com a minha vida, então minhas viagens são sempre relacionadas a arte, principalmente a trabalho. Quando eu viajo para descansar, eu dou uma desintoxicada. Gosto muito de ir para Lugano, na Suíça, e assim como a maior parte dos brasileiros que conheço, gosto muito de Miami. É um local que eu adoro, apesar de não ter muita cultura é um lugar que eu adoro.

O que você tem muita vontade de fazer na vida mas nunca fez?

Gostaria de pular de paraquedas, sou piloto mas nunca pulei de um avião.

Vista aérea da FAMA, em Itu, São Paulo (Foto: Divulgação/FAMA)
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