Do pequeno comerciante à maior potência de charutos premium do mundo
Por Cesar Adames
Um ícone no mundo dos charutos premium, Zino Davidoff é a referência de qualidade, consistência e tempo, deixando seu nome eternamente ligado ao bom gosto, a um estilo e aos prazeres da vida. Para continuar como o fornecedor líder no mercado global de charutos premium, o Grupo Oettinger-Davidoff manteve-se ao legado de seu fundador e expandiu seus horizontes, conseguindo, em 2017, faturar mais de 2 bilhões de reais.
O início
Zino Davidoff nasceu em 1906, na Ucrânia. Aos cinco anos de idade, sua família foi forçada a migrar da Rússia czarista e encontrou em Genebra seu novo lar. Em 1911, seu pai abriu uma pequena tabacaria, até hoje existente. Após graduar-se na escola, decidiu conhecer o mundo e, incentivado por seu pai, viajou pela América do Sul e Central onde aprendeu sobre o tabaco, estudando não apenas como ele era cultivado, seco e fermentado, mas, sobretudo, a melhor forma de misturá-lo e formular blends diferenciados, descobrindo excitantes e novos sabores.
Ao término de sua jornada de cinco anos, em 1930, retornou à Suíça decidido a dedicar todo seu talento aos charutos. Inaugurou uma seção exclusiva na loja seu pai, reservada para armazená-los e envelhecê-los. Possuindo conhecimento técnico dos processos envolvidos, desenvolveu uma área com controle do ambiente para evitar a perda de qualidade; foi a primeira do mundo e a precursora do umidificador, adiantando uma tendência que predominaria décadas seguintes.
Durante a 2ª Guerra Mundial, comprou todo o estoque de puros cubanos da empresa francesa Seita, evitando que acabassem nas mãos dos alemães. Com o final da guerra, os produtores de charutos cubanos acompanharam Zino na conquista do mercado europeu, até então dominado pelos produtores alemães, holandeses e suíços. Em razão da reputação adquirida nesse período, lhe foi dado o direito de produzir uma linha própria em Cuba.
Paixão em atender clientes e ensinar a arte de degustar charutos
A partir de 1940, Zino já havia consolidado sua marca na Europa. A atenção dedicada aos seus clientes foi preponderante para se tornar uma celebridade mundial. Um episódio clássico dessa devoção ao atendimento alude a um senhor que ingressou em sua loja e comentou que seus charutos eram caros, mas por ser um fazendeiro riquíssimo, tinha o privilégio de poder comprar qualidade e por isso levou uma caixa. Na manhã seguinte retornou narrando que experimentou apenas um, porém, não havia percebido tanta diferença em relação a outros premiados. Para demonstrar que seus charutos eram idênticos e possuíam qualidade superior, pegou dois dessa mesma caixa e propôs uma degustação em conjunto. Explicou as nuances, os sabores e os aromas de seu delicado blend. Após essa experiência, o fazendeiro reconheceu uma infinidade de sutilezas que diferenciavam os charutos de Zino de qualquer outro que havia provado, tornando-se um assíduo cliente.
E assim o fez com todos aqueles que frequentavam sua loja, ensinando cliente a cliente a apreciar as caraterísticas de um charuto premium e a degustá-los de maneira apropriada. Seu saber e simpatia pessoal, atraíram reis, príncipes, chefes de estado, artistas, músicos, milionários, homens de negócio e connoisseurs.
A série Château
Empresário de sucesso e apreciador de vinhos requintados, Zino fez com que uma simples caixa de charutos esquecida na adega de seu amigo Philippe Rothschild, desse origem, a partir de 1946, a uma das séries mais aclamadas da história, a linha de charutos batizada de “Château”, seguida do nome de grandes produtores de vinhos franceses.
“Davidoff foi o único produtor da história que conseguiu ter charutos batizados de Château Latour, Haut-Brion, Lafite, Lafite-Rothschild,Mouton-Rothschild, Yquem, Margaux e Dom Pérignon.”
Como não havia pedido permissão aos proprietários para o uso das marcas, Zino usou de sua simpatia e marketing para enviar em primeira mão essas caixas aos produtores. Quando viram o nome de seus vinhos imortalizados nas caixas dos charutos Davidoff, os direitos foram acertados. A linha “Château” triunfou no mercado ao longo de décadas, esgotando rapidamente a cada “safra”. Aos produtores de vinho, algumas caixas sempre eram reservadas.
A partir de 1975, os charutos da série Château foram relançados em caixas cabinet com a anilha Davidoff e, em 1977, foi lançado o Davidoff Dom Pérignon, um Churchill (17,8 cm de comprimento por 1,86 cm de diâmetro), em homenagem ao champanhe. Na década de 1990, série Château foi rebatizada “Grand Cru”.
A parceria com Ernst Schneider
Em 1967, Zino foi abordado pelo estatal cubana Cubatabaco (atual Habanos S.A.), para criar uma linha com o nome Davidoff. Os charutos seriam produzidos na recém estabelecida fábrica El Laguito, em Havana, criada para enrolar os charutos de Fidel Castro. Assim, em 1968, o mundo dos charutos acolheu um novo nome e uma nova filosofía de vida. A jornada de Zino desde as origens de sua pequena loja em Genebra até um grupo global posicionado em todos os mercados havia começado, com o lançamento dos primeiros charutos com a clássica anilha branca da Davidoff, inclusive a vintenária linha “Château”.
Zino era um dos únicos a ter uma produção privativa em Cuba e estava no auge de sua carreira. Para perpetuar seu projeto de vida, em 1970, vendeu sua única loja ao seu amigo e empresário suíço Ernst Schneider, do Grupo Oettinger Imex A.G.. O valor da venda foi de 4 milhões de franco suíços, uma fortuna ao seu tempo, mas justificada pela certeza de Schneider que expandiria os negócios e transformaria essa loja numa potência mundial.
A primeira medida de Ernst Schneider no comando foi proteger o nome Davidoff, naquela época utilizado em todos os tipos de produtos por outras empresas – da Europa a Ásia, de sorveterias a sapatos. A partir de então, os produtos antes restritos ao estabelecimento de Genebra, passaram a ser distribuídos ao redor do mundo em lojas de alto padrão que transmitissem a filosofia da Davidoff de desfrutar das coisas boas da vida.
Cortando laços com Cuba
Zino rompeu a relação com Cuba de maneira dramática: em 23 de agosto de 1989, fez manchete nos jornais ao queimar pública e propositalmente 130.000 charutos produzidos em Cuba.
Com esse ato, deixou clara sua posição que os charutos proporcionam um momento de prazer na vida, devendo justificar o dinheiro investido e o tempo dedicado para degustá-los. Deveriam, portanto, ser de extrema qualidade e contínua consistência, sempre com um sabor único, distinto e marcante. Como os charutos cubanos não tinham mais essas características, não eram dignos de receber a já consagrada anilha da Davidoff.
Em razão de um acordo celebrado entre Zino e a Cubatabaco, essa estava proibida de fazer charutos com seu nome e, aqueles ainda encontrados no mercado, deveriam ser comercializados até o final de 1992. A antiga fábrica em El Laguito continua sendo utilizada pela Habanos S.A. para produzir a marca Cohiba.
Entra em cena a Tabadom
O espírito pioneiro e a liderança em inovação continuaram a ser um foco para Zino e Ernst Schneider, que buscavam uma nova pátria capacitada a produzir os charutos com a características que consagraram e consolidaram sua marca. Seu destino foi ninguém menos que Hendrik Kelner, com quem firmou uma parceria que duraria até o final de sua vida.
Henke, como é conhecido por seus amigos, pertencia a uma família de produtores de tabaco e se formou em engenharia, o que possibilitou sua empresa Tabacos Dominicanos Companies Group – Tabadom – associar arte a ciência, logo, elaborar charutos com o melhor dos dois mundos.
Desde o início, Eladio Díaz, master blender e responsável pelo controle de qualidade, e Manuel Peralta, responsável pela área de genética e agronomia, formaram uma forte amizade e o ajudaram por mais de quatro décadas a elaborar os charutos Davidoff. A gama de diversas experiências de sabor e aromas tornou-se mais abundante para todo aficionado a partir da união desses gênios.
Os primeiros charutos fabricados República Dominicana foram lançados em 1991. A linha tradicional com anilha branca é composta pela Signature, Aniversário e Grand Cru (novo nome da série Château). Para comemorar a virada do milênio, em 2001, foi lançado o “Millennium Blend”, com força intensificada, sabor acentuado e aroma enfatizado, rapidamente se destacou das linhas existentes.
Em 1994, com 87 anos de idade, Zino faleceu em Genebra e tornou-se um ícone, para sempre associado como apreciador das coisas boas da vida e apaixonado por charutos.
Expandindo horizontes
O arrojado pioneirismo, a criatividade ímpar e a arte de inovar distinguiram Zino desde sempre. Sua busca incansável por novos tabacos e blends tem sido a inspiração para todos os charutos requintados que nas últimas cinco décadas carregaram a icônica anilha Davidoff. Era hora, então, de deixar a zona de conforto e explorar territórios antes desconhecidos.
Seguindo os passos de Zino e como líder de inovação no setor de charutos premium, a Davidoff encantou seus clientes com novas e dife- renciadas experiências de sabor e aroma ao integrar em seu portfólio tabacos de todos os cantos do mundo e preparar magistralmente blends para estimular os sentidos dos aficionados.
Em 2013, a Tabadom – Davidoff e seu trio de gênios começaram a inovação lançando a série “Nicarágua”, a primeira a incorporar tabaco não originário da República Dominicana. A novidade foi recepcionada com nota 93 pela Cigar Journal e nota 95 pela Cigar Aficionado (mesmo diante de 30 anos de uma intrincada relação entre a marca e a revista), mostrando complexidade, elegância e balanço – um sucesso imediato. Em 2015 surgiu o “Escurio”, com tabacos do Brasil, e, sucessivamente, vieram os charutos com o nome do primeiro-ministro britânico, sendo a Davidoff a única marca autorizada pela família a utilizar comercialmente o nome Winston Churchill.
Em 2016, chegou ao mercado a aclamada linha “Yamasa”, em homenagem à região dominicana com o mesmo nome, considerada pelos especialistas uma das melhores já produzidas, com complexidade única. Em 2017, lançou o inovador “Winston Churchill – The Late Hour” feito com tabaco envelhecido por seis meses nos melhores barris de uísque single malt escocês. Ninguém, além de Davidoff, colhe os tesouros dessas regiões e consegue misturá-os com tal habilidade e sofisticação. A Davidoff apresentou o “Oro Blanco Special Reserve 2002”, o mais raro dos charutos e a indulgência final. Esse charuto é lançado somente quando Eladio Díaz decide que estão envelhecidos o suficiente para encantar o cliente, assim, é dele a decisão de quando, quantos e quem receberá esses charutos. Até o momento, apenas 5 lotes de 50 foram disponibilizados, com folhas colhidas na região de Mao e envelhecidas por 12 anos e 18 meses, com valor superior a 500 dólares a unidade.
Crop-to-Shop
A Oettinger ainda permanece uma empresa familiar dedicada à produção, marketing, distribuição, varejo e venda de charutos premium e acessórios de luxo, contando com 3.600 funcionários ao redor do mundo.
O Grupo Oettinger-Davidoff está firmemente enraizado na filosofia crop-to-shop (da “colheita-à-loja”) e segue a abordagem da integração vertical controlando a operação desde os campos de tabaco na República Dominicana, em Honduras e na Nicarágua até a rede global de mais de 75 lojas próprias da Davidoff e selecionada rede de lojas autorizadas, denominadas “appointed merchants”.
A essência do legado de Zino perpetua-se ao se assegurar a altíssima qualidade dos charutos pela verticalização do negócio, desde a seleção das sementes até a mão dos aficionados, e a inigualável consistência dos charutos obtida pelo acervo de toneladas de folhas envelhecidas.
A política de focar única e exclusivamente no mercado de luxo dos charutos premium totalmente enrolados à mão de altíssima qualidade e o novo e diferenciado portfolio iniciado em 2013, permitiu que o Grupo Oettinger-Davidoff faturasse mais de 2 bilhões de reais em 2017.
50 anos de Davidoff
Este ano, a marca Davidoff comemora o 50º aniversário de sua icônica anilha branca e homenageia o espírito do homem que deu nome à empresa – Zino Davidoff. Para a celebração, trouxe de volta o seu excepcional Diademas Finas, um charuto que foi lançado em 2006, para comemorar o que seria o 100º aniversário de Zino.
Essa edição limitada foi disponibilizada em apenas 8.000 jarros de porcelana numerados, cada um contendo 10 charutos e um dispositivo de umidificação. Apresentam-se com 4 designs artísticos distintos, representando o continente americano, o oriente médio, a europa e a ásia. O blend tem um senso incomparável de equilíbrio e a assinatura sofisticada da Davidoff.
O privilégio de possuir um destes jarros de porcelana é para poucos, eles foram vendidos em apenas 10 horas após seu lançamento oficial, mas ainda pode ser encontrado em algumas poucas tabacarias.
Tempo hoje é escasso e deve ser usufruído da melhor forma possível. Ter tempo é o verdadeiro luxo da modernidade. Tempo é também o ingrediente essencial à fabricação de um charuto premium. Não é sem razão que é mencionado no mais novo e bem escolhido lema da Davidoff: “Time beautifully filled”.
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