COMER, BEBER, FUMAR


Seja na Recoleta, em San Telmo ou Palermo, Buenos Aires é destino incontornável para apreciadores de alta gastronomia, vinhos e, claro, charutos

Por Diego Viana

Uma cidade onde o fausto e a sofisticação do passado ainda são visíveis. Uma metrópole onde se pode caminhar pelas ruas fumando seu tabaco, sem preocupações, apreciando a arquitetura. São características que fazem de Buenos Aires “uma cidade muito convidativa para quem fuma charuto”, diz o personal chef e empresário paulistano Thomas Ziemer, globe trotter oficial do Caruso Journal. “O que acho primordial para um amante do charuto é se hospedar na Recoleta”, diz Ziemer, que conhece o lugar como um portenho. No período dourado da economia do país, quando a carne e o trigo dos pampas abasteciam os mercados europeus da Belle Époque, a Recoleta era o bairro predileto das classes altas, como dão testemunho as fachadas trabalhadas e as portas imponentes. “A Recoleta se parece com os melhores bairros de Paris, Madri ou Barcelona”, afirma o empresário.

O principal aeroporto de Buenos Aires é o de Ezeiza, a 35 quilômetros do centro da capital, mas o Aeroparque Jorge Newbery, dentro da cidade, e à beira do Rio da Prata, tem voos diretos para Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Ziemer sugere chegar à cidade por aí, diretamente na região central.

A Recoleta tem três hotéis que o empresário recomenda. O hotel Alvear, na rua de mesmo nome, e o Park Hyatt, no Palácio Duhau, são mais clássicos; já o Splendor Plaza Francia, na Praça França, é um hotel butique, “pequeno, moderno, maravilhoso, com um preço muito justo”, diz Ziemer.

O Alvear tinha um piano bar em que se podiam fumar charutos, mas foi fechado. Já o Park Hyatt ocupa um edifício neoclássico projetado por León Dourge e completado em 1932, o Palácio Duhau. O hotel conta com uma cave de queijos argentinos e o restaurante Duhau, com cozinha de influência francesa. Outra vantagem é o bar dedicado aos charutos. “É o melhor lugar fechado para se fumar charuto na cidade”, completa o empresário.

A Recoleta também tem o melhor brunch de Buenos Aires, servido aos domingos no restaurante Elena, do hotel Four Seasons. E se a Argentina é reconhecida por suas empanadas, as mais famosas do país são servidas no restaurante El Sanjuanino. “É um lugar muito simples e gostoso para comer algo típico argentino, como a empanada de entranhas, ou de queijo e cebola.”

Outra dica é fumar passeando pelo cemitério do bairro, o mais conhecido da capital. A arte tumular no Cemitério da Recoleta é muito admirada e pode ser apreciada com a ajuda de tours guiados. Ali se encontram os túmulos de Evita Perón e do escritor Adolfo Bioy Casares.

Para comprar charutos, o ideal é visitar a Tabaqueria Inglesa, na zona central. Instalado na calle Paraguay desde 1958, o estabelecimento se destaca por envelhecer tabaco, além de dispor de um pátio interno, aberto, onde se pode fumar e beber à sombra de uma árvore frondosa. “Eles têm um estoque muito grande. Se você entra e pede uma caixa de Partagas D4, eles perguntam o ano de sua preferência”, lembra Ziemer.

Em 2016, a marca cubana Ramon Allones lançou um charuto regional para os países do Cone Sul, o Patagon, que Ziemer recomenda. Também se encontram em Buenos Aires charutos que não estão disponíveis no Brasil, como o próprio Ramon Allones, além de Trinidad, Juan López e outros.

Buenos Aires é célebre por seus restaurantes, particularmente por sua carne. Além disso, ressalta Ziemer, “os argentinos, por serem descendentes de espanhóis, têm o tabaco na cultura. Se, depois do almoço ou do jantar, você se sentar na varanda para fumar, vão trazer um cinzeiro de charuto, vão oferecer uma bebida”, diz.

Em Palermo, bairro conhecido pelos bares, pelos antiquários e pelas galerias de arte, o empresário recomenda o restaurante Fervor, destacando os assados e os frutos do mar. No Don Julio, “você vai comer uma das melhores carnes da sua vida”, diz Ziemer, recomendando em particular o ojo de bife. Para os amantes do vinho, Ziemer recomenda a loja de Joaquin Alberdi, na Rua Jorge Luis Borges. “É a melhor loja de vinho de Buenos Aires, porque ele já empacota, sabendo quantas garrafas podem ser despachadas”, explica Ziemer.

 

Até 1870, o bairro nobre de Buenos Aires era San Telmo. Aí um surto de febre amarela assustou as famílias abastadas, que se deslocaram para a Recoleta. Apesar dos problemas de segurança, ainda hoje se veem nas ruas de San Telmo belas fachadas e edifícios imponentes. Aí se encontra o restaurante Casal de Catalunya. Ziemer destaca a paella, o arroz negro, o polvo à galega e o leitão. “É um clássico restaurante espanhol.”

O empresário sugere dar preferência ao almoço, com reserva, porque à noite o bairro não é recomendável. “Durante o dia, pode-se sair de lá fumando pelas ruas, visitar a praça Dorrego, que tem muitos antiquários”, afirma.

Outro bairro em que os restaurantes se destacam é Puerto Madero, área restaurada na década de 90 após a decadência das docas. O restaurante Cabaña las Lilas, do grupo Rubaiyat, serve assados e tem excelente padrão de atendimento. O Chila tem cozinha contemporânea e, segundo Ziemer, é “um restaurante classe A”. Após a refeição, pode-se caminhar por Puerto Madero, apreciar a vista dos canais e atravessar a Puente de la Mujer, marco do bairro.

Quem tiver tempo pode se interessar por uma estada de três ou quatro dias em Mendoza, que dista uma hora e meia de avião da capital. Ziemer recomenda hospedar-se no hotel The Vines, onde se pode comer no restaurante Siete Fuegos, do chef Francis Mallmann. “A refeição pode durar quatro horas, com carnes e peixes em sete tipos de preparação diferentes”, relata o empresário. “A vista é incrível. Tem uma piscina aquecida, de onde se veem os Andes nevados”, afirma.

Para aqueles que se entusiasmam com os vinhedos, é possível comprar um hectare plantado e fazer seu próprio vinho, com ajuda do enólogo do hotel. “Vou a Buenos Aires para comer bem, beber bem e fumar charuto na rua, porque ainda tem certa segurança”, resume Ziemer. “É uma experiência linda.”

Matéria retirada da 2ªEdição do Caruso Journal

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